Para conseguir emagrecer, jovem conta que chegou a comer ração de cachorro

Com 127 kg, Rayane Borges sofria bullying e arriscou a vida para emagrecer, mas só deixou de ser obesa com cirurgia bariátrica: "Sou uma nova pessoa"

Rayane Borges, de 23 anos, tem a autoestima alta, gosta de sair e adora postar fotos. A vida dela, no entanto, já foi bem diferente. No passado, a moça chegou a pesar 127 kg, sofreu com o bullying de colegas e arriscou a própria vida para emagrecer.

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Jovem fez a cirurgia bariátrica para conseguir emagrecer e, mesmo com alguns pontos negativos, não se arrepende
Foto: Reprodução/Instagram
Jovem fez a cirurgia bariátrica para conseguir emagrecer e, mesmo com alguns pontos negativos, não se arrepende


“Eu já tinha ido atrás de endocrinologistas, feito exames para saber se tinha algum problema hormonal, mas nada resolvia. Eu não conseguia seguir uma dieta porque o meu problema é que eu 'não comia comida' e gostava muito de besteiras, lanches e pizzas”, conta a jovem, que achou que a solução para emagrecer  e deixar de ouvir "piadinhas" de mau gosto poderia ser encontrada em tratamentos ilegais.

Rayane conta em entrevista ao Delas que, em um momento de desespero, entrou em um grupo do Facebook que reunia várias meninas que estavam descontentes com a aparência e comprou um remédio que prometia o emagrecimento rápido. “Na época, eu deixava o remédio no trabalho para os meus pais não verem. Eu comecei a ir muitas vezes ao banheiro, mas não conseguia perder peso, então vi que aquilo não fazia diferença.”

Tempo depois, desconfiada de que a compra poderia ter sido um golpe, Rayane confirmou o problema. Em casa, assistindo TV, ela ficou surpresa quando  viu uma reportagem que mostrava a mulher que vendeu os remédios para ela sendo presa. “Os comprimidos tinham ração de cachorro. Ou seja, até ração eu comi para emagrecer", revela.

Chateada, Rayane conta que ficou sem ação quando percebeu que o que havia tentado não tinha dado certo. Na época, ela já tinha iniciado uma reeducação alimentar, mas sem sucesso, e faltava forças para praticar exercícios, já que ela sentia falta de ar por ser sedentária e só saía de casa com uma condição: seu destino precisava ter um estacionamento para parar o carro próximo e ela não precisar andar muito.

“Eu fazia as pessoas rirem com as minhas palhaçadas e assim não ficava sozinha, isolada. Mas quando ia para uma festa, por exemplo, sabia que nunca seria notada”, desabafa a jovem, que sabia que precisava tomar uma atitude urgente. "Mesmo não tendo um diagnóstico grave, eu tinha insônia, falta de ar e dores no corpo devido ao meu peso", explica.

Jovem encarou a cirurgia bariátrica

Os pais de Rayane não sabiam mais o que fazer para vê-la feliz, e ela não pensava em fazer um procedimento cirúrgico, pois tinha medo de ter complicações e não sobreviver. “Eu achava que seria muito invasivo e perigoso, mas teve um dia em que eu olhei para mim e pensei que não queria mais ser daquele jeito, eu queria qualidade de vida e precisava mudar”, afirma.

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Rayane conta que resolveu, então, pesquisar sobre a bariátrica . Ao ler relatos de outras pessoas que tinham feito o procedimento, ela entendeu que aquela poderia ser uma escolha a ser tomada. “Eu comecei a desejar aquela cirurgia todos os dias. Comecei a pesquisar em novembro de 2016 e já queria fazer antes do Natal daquele ano”, conta a moça.

O custo, segundo a jovem, era alto, mas seu plano de saúde cobria. "Consegui fazer a cirurgia em janeiro de 2017 e deu tudo certo", explica, ciente de que a redução do estômago é recomendada apenas para pacientes que já tentaram emagrecer mudando o estilo de vida ou corram riscos por conta da obesidade. O caso dela, inclusive, só foi aprovado após a análise de diferentes especialistas, então é sempre importante buscar profissionais de confiança.

Vida nova

Hoje, formada em direito, Rayane pesa 70 kg, trabalha em um escritório de advocacia e está focada nos estudos para passar na prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). A moça conta que faria a bariátrica novamente para emagrecer se fosse preciso, e diz, com orgulho, que agora tem uma rotina bem diferente da que tinha no passado.

Embora não goste de academia – mas pretenda encarar uma no futuro –, a moradora de Caconde, no interior de São Paulo, corre todos os dias e tem disposição para sair com os amigos e o namorado sem precisar parar o carro na porta do destino. A alimentação dela, agora, também é diferente da de antes de emagrecer. Regrada, Rayane não abusa na quantidade e come frutas e verduras.

“Eu comia três latas de leite condensado em uma tarde. Desde depois da cirurgia, costumo passar mal com doce, então estou evitando. Mas, no geral, consigo comer de tudo. O que mudou mesmo foi a quantidade. Não consigo mais comer dois, três pratos de uma vez.”

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Quando se olhou no espelho pela primeira vez, após a cirurgia, Rayane decidiu mudar o visual e doar o cabelo que cortou


“No começo, o mais difícil é a dieta líquida, porque dá vontade de mastigar alguma coisa e é preciso caminhar para não ter trombose. Alguns alimentos causam o vômito também. A recuperação é dividida em três partes: a primeira é focada em alimentos líquidos, a segunda é pastosa, tipo papinha de bebê, e a terceira é o retorno, aos poucos, à alimentação normal", revela Rayane, que define uma dieta "normal" bem diferente do que consumia antes.

"Não sinto falta das extravagâncias que eu fazia. Uma alimentação normal é o oposto do que eu comia, é claro, sem três latas de leite condesado em um dia só", afirma a jovem, que está se esforçando para não fazer valer algumas frases que já ouviu. "Já disseram que o 'filho do vizinho' engordou depois que fez a bariátrica e isso pode acontecer comigo também."

O que realmente motivou Rayane a ter uma vida melhor, porém, não foram os conselhos das pessoas. A mudança, segundo ela, aconteceu de fora para dentro. Quando se viu no espelho depois da cirurgia pela primeira vez e depois de tanto sofrer com a gordofobia que ainda existe, ela decidiu que, a partir daquele momento, seria uma nova pessoa. Até o cabelo ela cortou para dar uma repaginada.

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"Era o que eu mais preservava em mim, e eu cortei para doar e fazer uma criança feliz”, diz a jovem. “Tem gente que diz que eu não precisava ter feito a cirurgia para emagrecer , que meu rosto era mais bonito gordinho, mas eu não ligo. Estou bem mais feliz assim”, conclui.