"Remédios para emagrecer não são um tratamento estético", alerta especialista

De acordo com endocrinologista Bruno Halpern, quando pessoas que não precisam do medicamento o tomam, elas sofrem mais com o efeito sanfona

No final de junho, o governo liberou a produção e a comercialização de inibidores de apetite feitos a partir das substâncias anfepramona, femproporex e mazindol. Os remédios para emagrecer estavam proibidos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde 2011, já que a agência havia alegado que não existia comprovação da eficácia dos medicamentos. 

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Remédios para emagrecer são indicados para quem tem IMC acima de 30 ou de 25 e alguma doença associada a obesidade

O presidente em exercício no momento, Rodrigo Maia, entretanto, afirmou que tomou a decisão de liberar os remédios para emagrecer após ouvir médicos favoráveis à medida e receber um parecer favorável do Conselho Federal de Medicina. O objetivo é atender o crescente número de brasileiros obesos.

A nova lei reascendeu o debate sobre os emagrecedores : será que eles são realmente necessários? A resposta talvez seja sim e não. Um dos maiores problemas vistos no Brasil em relação a esses medicamentos é o consumo abusivo dos mesmos. Muitas pessoas que não precisam deles os usam apenas para fins estéticos.

“É importante que as pessoas não confundam. Não é um tratamento estético. E muitas pessoas usam e não têm obesidade ”, alerta o endocrinologista Bruno Halpern, do Hospital 9 de Julho, em entrevista ao Delas. “Em algumas circunstâncias muito específicas até pode ser usado por pessoas que não são obesas, como no caso de quem engorda muito rápido por conta do uso de hormônios, mas deve haver acompanhamento de um profissional capacitado. É preciso evitar abusos, por exemplo, uma mulher que queira perder alguns quilos para entrar no vestido de noiva.”

O especialista explica que essas pessoas têm maior chance de entrar no chamado efeito sanfona , porque não vão tomar o medicamento de forma ininterrupta, e mais chance de efeitos colaterais. Além disso, o uso inadequado também interfere no uso por pessoas obesas e que realmente necessitam dos remédios para emagrecer.

“Às vezes, a pessoa que precisa tem medo de tomar porque o vizinho, que já era magro, tomou e passou mal. Não podemos deixar que as pessoas que precisam não usem porque aquelas que não precisam utilizam de forma abusiva.”

A busca por um padrão de beleza quase impossível de ser alcançado é um dos fatores que influenciam o problema. “O uso estético desses medicamentos é muito forte. Muitas vezes essas pessoas que não precisam também são aquelas que vão a clínicas de estética procurando por tratamentos como lipoaspiração e criolipólise. Há até mesmo um aumento no número de prescrições durante o verão. Não foi para isso que os medicamentos foram criados.”

Então como emagrecer?

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Um dos segredos para emagrecer é saber fazer as escolhas corretas, unindo calorias e saciedade, sem esquecer o prazer

Os remédios para emagrecer são indicados para pessoas como o IMC (Índice de Massa Corpórea) acima de 30 ou, então, no caso de pacientes com mais de 25 e alguma doença associada à obesidade, como diabetes e hipertensão. Para pessoas que não se encaixam nesse padrão, o mais indicado é buscar outras alternativas.

“O mais importante é tentar entender mais as ideias básicas de nutrição. Cada pessoa fala uma coisa: é preciso comer de três em três horas, o melhor é evitar carboidrato de noite, é mais garantido ficar muito tempo sem comer, por exemplo, mas o básico é que, para emagrecer, é preciso consumir menos calorias do que se gasta.”

O mais complicado é encontrar a melhor dieta para cada pessoa, já que não há uma fórmula pronta e cada organismo age de uma forma diferente. Além disso, não é fácil começar com a dieta porque quando você ingere menos calorias do que precisa, mais fome pode ter. O segredo é fazer isso optando por alimentos que darão mais saciedade.

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“Uma coisa que dificulta muito são as bebidas calóricas, porque elas não dão saciedade. O melhor é evitar refrigerantes, sucos e, claro, o álcool. Alimentos industrializados e ultraprocessados também têm muitas calorias. Um biscoitinho, às vezes, tem a mesma quantidade calórica que uma refeição, mas dá bem menos saciedade.”

O especialista recomenda, além do acompanhamento adequado com um profissional, que as pessoas passem a olhar o número de calorias em cada alimentos e também passem a entender melhor os benefícios dos exercícios. “É preciso buscar caminhos que sejam possíveis de se manter a longo prazo.”

Preciso tomar, e agora?

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Remédios para emagrecer ajudam a pessoa a manter o peso, mas não substituem a dieta e os exercícios físicos

Se você tem IMC acima de 30 ou o seu índice está maior que 25, combinado com alguma doença relacionada à obesidade, talvez precise tomar algum remédio para emagrecer. Mas atenção: isso só pode ser feito com a recomendação e acompanhamento de um especialista.

Primeiro de tudo é importante entender que cada remédio tem um funcionamento diferente. O endocrinologista Bruno Halpern explica que, atualmente, apenas quatro substâncias emagrecedoras são aprovadas no Brasil: a sibutramina, o orlistat, o cloridrato de lorcasserina e a liraglutida

De acordo com a Anvisa, a sibutramina é o medicamento com registro válido mais antigo do Brasil, feito em 1998. O endocrinologista explica que a substância atua no sistema nervoso central, aumenta a saciedade e faz com que a pessoa coma menos. Já o cloridrato de lorcasserina tem uma ação parecida e gera menos efeitos colaterais, mas só foi registrado no início do ano passado.

Diferentemente, o orlistat é um remédio que elimina a gordura pelas fezes. É o segundo mais velho no Brasil, tendo chegado ao País no final dos anos 90. Com outro tipo de ação, o liraglutida faz com que a pessoa sinta saciedade logo após começar a comer e chamou atenção de muita gente no ano passado.

As pessoas tendem a achar que os medicamentos atuam da mesma forma, mas cada um tem uma função diferente e geram efeitos absolutamente diversos. Bruno explica que é preciso ter diferentes remédios para emagrecer porque cada pessoa tem um organismo único e vai reagir de uma forma positiva ou negativa para cada substância. “É bom ter várias opções para encontrar a melhor para cada paciente. Se tiver só dois medicamentos, por exemplo, um grande número de pacientes não vai ser beneficiado.”

O objetivo real das substâncias é melhorar a saúde das pessoas que sofrem com a obesidade ou sobrepeso associado a doenças como diabetes, hipertensão e gordura no fígado. “Também não é verdade que o medicamente tem como objetivo normalizar o peso, chegar a algum ‘padrão’. Os remédios vão promover perda de 5% a 7% do peso. Mais dos 10% já é um resultado muito bom. A pessoa continua gordinha, mas melhora demais a saúde. É um mito achar que só funciona quando a pessoa chega em um determinado peso.”

Para essas pessoas, os remédios para emagrecer são importantes porque aumentam em quatro a cinco vezes a chance da pessoa chegar a seus objetivos. Segundo o endocrinologista, apenas 10% conseguem manter o peso perdido apenas com uma alimentação saudável e exercícios após um ano. As outras 90% reganham o que perderam após esse período.

“Esses pacientes não merecem uma forma de manter o peso? Não podemos usar a excessão como regra. E o reganho de peso não é falta de força de vontade. Existem características biológicas que influenciam no ganho de peso, não é algo apenas psicológico.”

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Outra coisa importante é que os remédios para emagrecer não substituem as dietas e os exercícios. O especialistas alerta que se uma mudança no estilo de vida não for feita, dificilmente a pessoa vai perder o que precisa. E claro, sempre manter o acompanhamento com um profissional de confiança.