Aborto espontâneo é mais comum do que se pensa

Dor abdominal forte e sangramento podem ser sinais de que algo não está bem com o bebê

Assim que a publicitária Maria Júlia da Silva, 28 anos, completou três meses de gestação, ela sofreu um aborto espontâneo. Foi horrível, era minha primeira gravidez. Senti uma cólica muito forte e tive um pequeno sangramento. Estar na maternidade próxima a outras mães com seus filhos recém-nascidos até fazer a curetagem piorou ainda mais minha situação. Fiquei triste e abalada por muito tempo, conta.

Seis meses depois, Maria Júlia tomou um susto ao descobrir que estava grávida novamente. Não queria tão cedo, mas aconteceu. Fiquei com muito medo de passar por tudo aquilo mais uma vez. Acabei não curtindo muito a gravidez. Para minha felicidade, a Elisa, que está com 1 ano e oito meses, se desenvolveu super bem e nasceu saudável. Mas só sosseguei depois de tê-la em meus braços.

De acordo com o obstetra da Unifesp, Dr. Julio Elito Júnior, de 10 a 15% das gravidezes não chegam até o seu fim. Oitenta por cento dos casos são considerados precoces, ou seja, acontecem até 12ª semana de gestação, diz o médico. A causa mais freqüente, em situações como essas, é uma alteração cromossômica na formação do embrião quase sempre relacionada à idade materna mais avançada. Os abortos tardios, mais raros, acontecem após a 12ª semana.

Entre as causas que podem, eventualmente, provocar a perda do feto estão: diabetes, disfunções da tireóide e do útero, falta de progesterona (hormônio produzido pelos ovários) e infecções decorrentes de doenças como toxoplasmose, rubéola e sífilis. Doenças auto-imunes, nas quais o corpo da mulher identifica a gestação como uma proteína estranha (já que carrega células paternas), também podem levar a abortos.

O especialista destaca que é importante diagnosticar um aborto, observando o quadro e investigando as causas. Caso a paciente esteja com atraso menstrual, dor abdominal e sangramento, realiza-se o exame de toque. Se através dele nada se confirmar, a paciente faz uma ultra-sonografia transvaginal. Muitas vezes, a mulher sofre o abortamento completo em sua própria casa. Então, realizamos o ultra-som só para garantir que foi tudo eliminado. Quando a paciente chega com sangramento, o procedimento padrão é interná-la e realizar uma curetagem, explica o Dr. Julio. Mas nem todo sangramento resulta em um aborto: A mulher pode passar por isso e continuar grávida. Mas, sem dúvida, é um sinal de alerta. No começo da gravidez, por exemplo, pode indicar uma gravidez tubária (nas trompas).

Sofrer um aborto não significa, necessariamente, que as gestações futuras não vão se desenvolver até o final. Até duas interrupções da gravidez podem ocorrer por acaso. Quando o episódio se repete pela terceira vez consecutiva, é considerado aborto habitual e se faz necessário pesquisar o que está levando a isso. Identificar o problema é o primeiro passo para poder tratá-lo e evitar que isso venha a acontecer novamente.

Aconselha-se que a mulher que passou por um aborto espere de três a seis meses para engravidar novamente. O especialista explica que quando acontecer em uma gravidez mais avançada é recomendável esperar um tempo maior. É importante até mesmo para se restabelecer dessa perda. No caso de um aborto habitual, o intervalo entre as gestações é a melhor época para se pesquisar o problema.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica como abortamento toda gestação interrompida antes de completar 22 semanas, quando o peso do feto é inferior a 500 gramas e mede menos de 16,5 centímetros. O critério que mais utilizamos na maternidade é o peso. Acima disso, o bebê pode ser enterrado e tem direito a certidão de óbito, explica o Dr. Julio.

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