
As olheiras são um dos incômodos estéticos mais democráticos, mas nas peles negras, podem se manifestar de forma mais intensa e persistente. Isso acontece porque, embora a melanina ofereça uma proteção natural contra os efeitos nocivos do sol, ela não impede a hiperpigmentação que caracteriza o escurecimento da região abaixo dos olhos.
Segundo a dermatologista Flávia Brasileiro, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, o primeiro passo é entender que há diferentes tipos de olheiras — e cada uma exige um tratamento específico .
“Podemos classificá-las em estruturais, vasculares e pigmentares. Em alguns casos, elas aparecem combinadas, o que torna o tratamento mais complexo”, explica.
Nas olheiras estruturais, o problema está na anatomia: o sulco lacrimal mais profundo cria uma sombra natural. Já as vasculares estão relacionadas à presença de vasos sob a pele fina das pálpebras. As pigmentares, por sua vez, surgem pela concentração de melanina — e são justamente as mais comuns entre pessoas de pele negra.
“Pacientes com fototipos mais altos têm maior tendência à hiperpigmentação pós-inflamatória, que escurece ainda mais a área abaixo dos olhos”, detalha a médica.
A especialista lembra que, em muitos casos, cremes e corretivos oferecem apenas alívio momentâneo.
“Quando há múltiplas causas envolvidas, o tratamento precisa ir além do cosmético. Fatores extrínsecos, como falta de sono, exposição solar e inflamações alérgicas, podem ser controlados com rotina de cuidados e produtos tópicos. Já causas genéticas e relacionadas ao envelhecimento demandam abordagens médicas personalizadas” , diz.
Nos últimos anos, avanços na dermatologia étnica têm ampliado as opções de tratamento. Flávia Brasileiro cita substâncias como niacinamida, ácido kójico e vitamina C entre as mais eficazes para uniformizar o tom da pele e modular a produção de melanina.
“Mas, em muitos casos, é preciso recorrer a tecnologias como os lasers de picossegundos, que fragmentam o pigmento sem gerar calor. Isso é fundamental para reduzir o risco de manchas pós-procedimento em peles negras” , afirma.
Para as olheiras estruturais, a dermatologista indica o preenchimento com ácido hialurônico ou gordura autóloga, técnicas que devolvem o volume perdido e suavizam o aspecto de profundidade .
“O segredo está na personalização. O mesmo tratamento que é excelente para um tipo de pele pode agravar o problema em outro. Por isso, é essencial procurar um profissional que compreenda as especificidades da pele negra e saiba ajustar cada etapa do protocolo”, ressalta.
Além dos tratamentos, a prevenção continua sendo uma aliada poderosa. Dormir entre sete e nove horas por noite, manter uma alimentação equilibrada e estimular a circulação sanguínea com atividades físicas ou massagens são hábitos que ajudam a preservar a aparência da pele.
“E nunca se deve abrir mão do protetor solar, mesmo em dias nublados. Ele é indispensável para evitar a hiperpigmentação” , finaliza Flávia.