
O TikTok baniu definitivamente a conta de um stalker que perseguia uma streamer há 2 anos, nesta quinta-feira (14), após ser procurado pelo Portal iG .
Em relato exclusivo ao iG, a jovem contou que foi alvo de perfis falsos criados por ele, teve dados pessoais expostos e sofreu sérios impactos na saúde mental.
Vitória, hoje com 21 anos, ganhou notoriedade no TikTok em 2023 com transmissões ao vivo, chegando a quase 200 mil seguidores e vídeos com milhões de visualizações. Mas a fama trouxe também perseguição intensa e assédio, que se prolongaram por anos.
Vitória contou ao iG que um usuário passou a acompanhá-la obsessivamente, enviando mensagens insistentes, presentes indesejados em seu endereço e criando contas falsas para invadir suas lives.
“Mesmo bloqueando e ignorando, eles continuavam me perseguindo, comentando meu endereço e meu número de telefone, espalhando informações pessoais e criando perfis falsos para me difamar” , conta.
A situação a levou a desativar suas redes sociais principais, mantendo apenas contas restritas para falar com familiares e amigos próximos. Ela também registrou boletim de ocorrência.
Vitória relata que, nos breves momentos em que reativava a conta no TikTok, passava a receber mensagens do stalker, que criou uma conta falsa na plataforma. A última foi recebida por ela no dia anterior à publicação desta reportagem.

Conteúdo adulto e manipulação
Na tentativa de se manter financeiramente, Vitória entrou em uma agência para criadores de conteúdo no Onlyfans, plataforma de conteúdo adulto, mas diz ter enfrentado manipulação e ameaças de difamação por parte de moderadores e gestores. Segundo ela, mesmo após afirmar que não queria se expor de forma explícita, seu conteúdo foi usado indevidamente para gerar lucro.
“Foi um verdadeiro pesadelo'' .
Na plataforma OnlyFans, chegou a perder o acesso à conta e, quando recuperou, descobriu que vídeos explícitos de outras mulheres eram vendidos como se fossem seus. Trechos reais também eram vazados para “promover” o perfil e atrair assinaturas.
Diante disso, pediu a exclusão permanente da conta. A plataforma devolveu o acesso para que ela a desativasse, mas o processo demorou meses por causa de assinaturas ativas.
“Tive que esperar até o fim da última inscrição para finalmente ver minha conta deletada. Isso só aconteceu há cerca de dois meses.”
O Portal iG procurou a agência, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
O crime de stalking
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2024, foram registrados mais de 95 mil casos de perseguição (stalking) no Brasil, um aumento de 18,2% em relação a 2023.
No mesmo período, os registros de violência psicológica contra mulheres superaram 51 mil casos, crescimento de 6,3%.
O stalking foi criminalizado no Brasil pela Lei nº 14.132/2021, com pena de seis meses a dois anos de reclusão, além de multa. A advogada Thais Cremasco explica, em entrevista ao Portal iG, que a legislação define o crime como “(...) perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando sua integridade física ou psicológica, restringindo sua locomoção ou invadindo sua privacidade” .
Ela recomenda registrar mensagens e provas digitais para fortalecer processos judiciais.
Tentativa de controle
Para a psicóloga Malena Veloso, quem comete stalking geralmente não aceita limites e busca controlar a vítima.
“Ele não aceita um ‘não’ e sente seu ego ferido quando é rejeitado. O comportamento começa pequeno, mas tende a aumentar, isolando a vítima” , afirma ao iG .
Ela ressalta a importância de reagir:
“ A vítima deve buscar apoio de familiares, amigos e redes de proteção. O silêncio protege o agressor. Mostrar que você tem uma rede de apoio coage o agressor.”
Malena alerta para sinais iniciais, como invasão de limites, críticas à identidade, sondagens para encontrar brechas e uso de presentes ou elogios excessivos (“love bombing”) para ganhar confiança.
“As pessoas empáticas são as mais vulneráveis. É preciso observar como o outro reage aos seus limites e decisões.”
O que diz o TikTok:
Em nota ao Portal iG, o TikTok informou que investigou a denúncia e baniu permanentemente a conta do agressor.
“Todos os conteúdos e contas semelhantes, em violação às Diretrizes da Comunidade, foram removidos imediatamente, quando identificados” , afirmou a plataforma.
Segundo a empresa, suas Diretrizes abrangem temas como segurança, autenticidade e integridade. A moderação é feita por meio de sistemas automáticos e análise humana, com o objetivo de remover rapidamente conteúdos nocivos, aplicar punições proporcionais e impedir que reincidentes voltem a agir.
A plataforma também explicou que, ao bloquear alguém, as duas partes deixam de ver publicações, não conseguem encontrar na busca nem trocar mensagens diretas. No entanto, o bloqueio não impede que a pessoa bloqueada apareça em transmissões ao vivo com múltiplos apresentadores, em duelos publicados por outros criadores ou em conversas em grupo compartilhadas.
Para vítimas de perseguição online, o TikTok recomenda denunciar perfis e conteúdos suspeitos assim que forem identificados, além de acionar autoridades competentes sempre que houver ameaça à integridade física ou psicológica.