Em outubro de 2018, Grace Spence Green, então uma estudante de Medicina de 22 anos, vivia um momento promissor em Londres. No quarto ano da faculdade, ela mal podia imaginar que um incidente bizarro mudaria radicalmente seu futuro. Enquanto caminhava pelo shopping Westfield, na zona leste da capital britânica, um homem pulou do terceiro andar – cerca de 40 metros de altura – e caiu sobre ela .
O impacto fraturou sua coluna vertebral em múltiplos pontos, lesionou sua medula espinhal e a deixou paralisada da cintura para baixo . O homem, identificado posteriormente como Amsumana Sillah Trawally, sobreviveu e foi deportado após cumprir pena de quatro anos de prisão em 2019, após admitir ter causado lesões corporais graves. Ele estava sob efeito de drogas no momento em que causou o acidente.
A longa jornada de aceitação
Nos meses seguintes, Grace enfrentou um processo doloroso de reabilitação. Inicialmente, recusou-se a aceitar a permanência da cadeira de rodas, de acordo com uma entrevista para a BBC. Mas exames mostraram a gravidade irreversível de suas lesões.
Aos poucos, ela percebeu que a cura não significava recuperar os movimentos, mas adaptar-se a uma nova realidade. Hoje, Grace trabalha como médica e usa sua experiência para conectar-se com pacientes.
Desafios diários e preconceito estrutural
A rotina ainda apresenta obstáculos. Banheiros inacessíveis, calçadas sem rampas e comentários capacitistas são frequentes.
"As pessoas dizem: 'Aqui não vêm muitos deficientes'. Claro que não, se o lugar não os inclui ", critica.
Quanto ao homem que caiu sobre ela, Grace não nutre rancor.
"A aleatoriedade do acidente me poupou da raiva", reflete.
Sua família respeitou sua decisão de não buscar vingança, mas profissionais de saúde e conhecidos frequentemente projetavam indignação.
"Diziam: 'Eu o mataria'. E eu só pensava: isso não me ajuda em nada."
Um novo significado para 'cura'
Grace hoje entende que cura não é sinônimo de recuperação física total, mas de ressignificação.
"Aceitei que minha lesão não desaparecerá, e tudo bem. Minha vida não acabou – só tomou outro rumo."
Sua história, marcada por resiliência e autodescoberta, desafia estereótipos sobre deficiência e inspira outros a enxergarem além das limitações.