
Katherine Fontinelly Bittencourt começou gravando dublagens na internet, mas foi ao compartilhar seu cotidiano como catadora de materiais recicláveis que sua vida mudou. Com uma banheira de hidromassagem encontrada no barracão, um vídeo viralizou, levando-a de menos de 5 mil para 300 mil seguidores em um único dia. Hoje, ela usa sua visibilidade para combater o preconceito e mostrar a importância do trabalho dos catadores.
Desde criança, ela enfrentou o estigma de ser filha de catadores. Na escola, foi agredida por colegas depois que a mãe deixou o carrinho de reciclagem de papel na escola e abandonou os estudos após o episódio de violência. "Minha mãe sempre me pedia para gravar o trabalho com reciclagem, mas eu achava que ninguém iria gostar", conta. O medo do julgamento a fez hesitar, até que a descoberta de uma banheira quebrada se tornou o marco inicial de sua nova trajetória.
Entre os achados mais curiosos em seu trabalho, ela destaca desde eletrônicos descartados caros, como TVs e celulares até itens inesperados. Mas foi a banheira que simbolizou uma virada. "Sempre sonhei em ter uma, então resolvi brincar, tirei fotos e postei. Ela começou a minha vida", afirma.
Além disso, sua influência nas redes sociais trouxe mudanças concretas: hoje, muitos materiais perigosos, como vidros e agulhas, chegam embalados de forma segura aos galpões de reciclagem. "Antes, nos cortávamos muito com vidros, giletes e agulhas. Hoje, muitos desses materiais chegam embalados, em latas ou garrafas vedadas com durex. Agora, vejo as pessoas se preocupando mais", comemora.
Seu principal objetivo ao compartilhar a rotina é humanizar a profissão. "As pessoas me julgam por me arrumar, dizem que estou 'muito limpinha para ser catadora'. Acham que, por trabalhar com lixo, não posso ter autoestima ou coisas boas", relata ao iG Delas. O preconceito, muitas vezes, vem da ideia de que quem trabalha com reciclagem não pode ter dignidade ou bons pertences. "Já me chamaram de lixeira, bandida e até de drogada, só por fazer um trabalho honesto."
Ela deixa um recado claro: "Os catadores não só limpam as cidades – são responsáveis por 90% do material retirado das ruas –, mas também são a base da reciclagem, que transforma lixo em novos produtos". Sua luta é para que a profissão seja valorizada. "Quero que as pessoas vejam que catador não é 'lixeiro'. É um trabalho lindo, que merece respeito."