
Desde a infância, a representante comercial Naiana Pereira Guerra , de 37 anos, sabia que era adotada. Aos quatro anos, sua mãe adotiva explicou de maneira amorosa que ela era "filha do coração", nascida em outra barriga, mas destinada a fazer parte daquela família. Esse assunto nunca foi tabu em sua casa; ao contrário, foi tratado com transparência e naturalidade. No entanto, somente aos 36 anos, Naiana sentiu que era o momento certo para aprofundar sua história e buscar suas raízes.

Ao compartilhar sua decisão com sua mãe adotiva, encontrou apoio irrestrito e o nome da mãe biológica. "Fui franca com ela a respeito de como precisava conhecer minhas raízes para ter paz em minha jornada, e ela me apoiou e contou tudo", relembra ao IG Delas . Esse desejo de descobrir mais sobre sua história intensificou-se após o nascimento de seu filho, Leonardo.
A busca pela mãe biológica a levou ao Instagram, onde encontrou um perfil que despertou sua atenção. "No início fiquei insegura. Porém, quando vi as fotos dela, não tive dúvidas, pela nossa semelhança, além do nome não ser muito comum", conta.
O momento de enviar uma mensagem foi de grande coragem. "Sou uma mulher muito corajosa, e só consegui mandar mensagem porque estava em meu íntimo, dentro de mim, preparada para qualquer que fosse a resposta dela". Em maio do ano passado, ela tomou coragem e enviou uma mensagem inesperada: “Boa tarde, primeiramente, desculpa mandar mensagem assim... 14/10/1987 te lembra algo?”.
A resposta não demorou. Ainda no mesmo dia, a mãe biológica confirmou que havia dado à luz uma menina nessa data. A partir desse instante, as duas iniciaram um diálogo cheio de emoção e descobertas, que, ao longo dos seis meses seguintes, foi fortalecendo o vínculo entre elas. Com o passar do tempo, ambas se sentiram prontas para o tão esperado reencontro pessoalmente. A reação de sua mãe biológica foi intensa: "Ela chorou muito, falou o quanto eu era parecida com a Priscila (minha irmã cinco anos mais nova que eu) e me pediu perdão".
Naiana relata que sua mãe biológica enfrentava um período extremamente difícil quando descobriu a segunda gestação. “Ela já tinha uma filha de apenas um ano e ambas viviam em uma situação de grande vulnerabilidade, chegando a enfrentar dificuldades até mesmo para se alimentar. Diante desse cenário e sem recursos para garantir um futuro digno para mim, tomou a decisão de me colocar para adoção”, explicou a representante comercial. Naiana têm três irmãos biológicos: Juliana, de 38 anos, Priscila, de 33 e Carlos, de 22.
O reencontro com sua irmã Juliana também trouxe uma conexão imediata. "Foi fantástico, elas (minhas irmãs) são maravilhosas, temos uma ligação inexplicável! Nos falamos quase todos os dias!". Já o encontro com sua mãe biológica exigiu um planejamento cuidadoso. "Confesso que fui de peito aberto, sem expectativas, e foi muito bacana. Ela recebeu eu e Juliana em sua casa e tomamos café juntas. Algo que nunca imaginei".
A experiência trouxe diversas emoções, especialmente no equilíbrio entre sua história adotiva e sua nova conexão familiar. "Minha mãe adotiva é maravilhosa, uma mulher forte que exala amor, e foram esses valores e princípios que ela transmitiu para mim. Contei pra ela como foi. No início, ela ficou com 'ciúmes', normal, mas depois passou! Não mudou nossa rotina, mas mudou algo dentro de mim!".
Hoje, Naiana tem uma relação próxima com seus irmãos biológicos, especialmente com Juliana e Priscila, enquanto Carlinhos, 15 anos mais novo, se mostra mais reservado. Com sua mãe biológica, a interação é mais espaçada, em respeito às questões pessoais dela.
Para aqueles que passam por situações semelhantes, Naiana compartilha uma reflexão valiosa: "A base da nossa vida é o amor. Nem sempre é fácil entender o amor e suas diversas formas, mas inclusive dentro de uma adoção, há um ato de amor, pois a pessoa que gerou enxerga que precisa fazer aquilo para dar um futuro melhor para a criança. Ressignificar a nossa existência, liberando perdão e amor, é a chave para uma vida sem rancor e mágoas".
Por motivos de segurança e para evitar represálias, a mãe biológica de Naiana não foi identificada ao longo do texto. Detalhes sobre a adoção também não foram divulgados para preservar as partes envolvidas.