Samantha Leal conta sua história criando a OncoClothes
Moniky Alves
Samantha Leal conta sua história criando a OncoClothes


Samantha Leal , jornalista e empresária carioca de 46 anos, transformou sua luta contra o câncer de mama em inspiração para criar uma linha de roupas voltada para pacientes oncológicas. Após o diagnóstico em 2015, que coincidiu com uma gravidez incerta e o nascimento de seu filho com uma condição congênita, ela enfrentou novos desafios com uma recidiva em 2022, já com metástase.

Durante uma viagem à Itália, ao visitar o Duomo de Milão, ela teve a ideia de criar peças que unissem conforto e estilo para mulheres em tratamento. Assim, surgiu a OncoClothes. Confira o relato para o iG Delas: 


“Meu nome é Samantha Leal, tenho 46 anos, sou carioca, mas atualmente moro em Florianópolis. Sou jornalista e minha vida mudou completamente em 2015, quando recebi o diagnóstico de câncer de mama. Naquela época, precisei passar por uma mastectomia. O que complicou ainda mais foi descobrir que estava grávida durante o tratamento. 

Na verdade, só soube que estava grávida quatro meses depois de começar a quimioterapia. Foi uma loucura, com toda a preocupação sobre como os medicamentos afetariam o bebê e como o meu câncer, sendo hormonal, se desenvolveria.

Quando meu filho nasceu, ele veio ao mundo com pé torto congênito, então além do meu tratamento, também tive que começar o tratamento dele, com gesso semanalmente durante um ano. Pouco depois que ele nasceu, minha família e eu nos mudamos para Florianópolis, buscando um recomeço. Sempre fui uma pessoa que tentava ver o lado positivo das coisas, então não me deixei abater pela mastectomia. Encarei tudo com uma mentalidade positiva.

Em 2019, me separei do meu marido, o que foi um baque imenso. Mesmo assim, não deixei a peteca cair. Fui para Nova York estudar inteligência emocional e inteligência positiva com Maria Braun. Esse foi um passo importante para me fortalecer. Quando cheguei em 2022, estava no auge da minha carreira como assessora de imprensa, com clientes nacionais e internacionais, viajando bastante. Mas foi aí que enfrentei outro golpe: descobri uma recidiva do câncer, com um tumor de 9 cm na axila, já com metástase no pulmão. Escutar a palavra ‘metástase’ foi devastador. A primeira coisa que me veio à mente foi a brevidade da vida.

O que mais aprendi com o câncer é que a vida é finita. Não apenas para quem está doente, mas para todo mundo. Se todos tivessem esse olhar sobre a vida, acho que brigaríamos menos e aproveitaríamos mais. Comecei a me afastar de pessoas tóxicas, a não me importar mais com a opinião alheia e a valorizar mais a mim mesma e minha família.

Logo falei com minha médica: ‘Sou autônoma e preciso trabalhar. Para isso, preciso de qualidade de vida e energia. A quimioterapia não vai me proporcionar isso’. 

Foi então que ela me falou sobre uma terapia-alvo, chamada Abmasclip , uma medicação nova que impediria a progressão da doença, com menos efeitos colaterais do que a quimioterapia. O problema era o custo: cerca de 12 mil reais por mês. Fui atrás de ajuda e consegui o medicamento judicialmente, graças ao apoio da Associação MUCC (Amor e União Contra o Câncer) . Hoje, sou voluntária lá, e isso me dá energia para continuar.

Claro, ainda enfrento muitos desafios. A menopausa induzida e os efeitos colaterais do tratamento me trouxeram dores articulares, enjoo e cansaço constante. Mas, apesar disso, consegui continuar trabalhando, embora em ritmo reduzido, e me dediquei também ao cuidado dos meus filhos e dos filhos do meu atual marido. Vivemos uma casa cheia, com quatro crianças, o que traz uma alegria em meio às dificuldades.

Samantha Leal
Arquivo pessoal
Samantha Leal


OncoClothes

Foi em uma dessas fases desafiadoras que, conversando com meu terapeuta, percebi que o que mais me trazia alegria era viajar. Depois de muito pensar e conversar com meu marido, decidi comprar uma passagem para a Itália. Essa viagem foi um divisor de águas. Em Milão, ao visitar o Duomo, me deparei com uma imagem de Santa Ágata, a padroeira das mulheres com câncer de mama. Desabei em lágrimas, algo que não fazia desde o primeiro diagnóstico. Ali, entre lágrimas, veio a ideia que mudaria minha vida e a de muitas outras pessoas: criei a Santa Ágata OncoClothes , uma linha de roupas especialmente desenvolvida para mulheres em tratamento oncológico.

Samantha Leal conta sua história criando a OncoClothes
Arquivo pessoal
Samantha Leal conta sua história criando a OncoClothes


A Santa Ágata nasceu da necessidade que eu mesma senti ao passar pelas sessões de quimioterapia e radioterapia. Durante o tratamento, sofri muito com frio e a dificuldade de tirar sangue ou aplicar injeções sem ter que me despir completamente. Foi então que pensei em criar roupas funcionais, com aberturas estratégicas e fáceis de manusear, mas sem perder o estilo. Comecei a desenhar blusas com zíperes nos braços e pescoço, ideais para punções e infusões sem que a pessoa precise se sentir desconfortável.

A ideia cresceu e, com a ajuda de voluntários, pude lançar as primeiras peças. Cada nova coleção é adaptada com base nos feedbacks que recebo de pacientes. Hoje, a Santa Ágata OncoClothes vai além de ser uma marca de roupas; é um propósito. A cada peça vendida, sei que estou ajudando mulheres a enfrentarem o tratamento com mais dignidade e conforto. E essa é a maior vitória que eu poderia alcançar"


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