Gisèle Pelicot
Reprodução/X
Gisèle Pelicot


Nesta quarta-feira, um caso de abuso sexual que abalou a França ganhou novo destaque no tribunal de Vaucluse. A vítima, Gisèle Pelicot, dopada e violentada por dezenas de homens recrutados pelo próprio marido, prestou um depoimento comovente. O julgamento, que já dura mais de um mês, gerou intensos debates sobre consentimento, violência contra a mulher e as dinâmicas de poder entre os gêneros.

Gisèle, que decidiu tornar o caso público, relatou os crimes que sofreu por mais de uma década, buscando provocar uma transformação social. "Sou uma mulher completamente destruída. Não sei como me reconstruir", desabafou, reforçando a importância de seu testemunho ser aberto ao público. Ela esperava que outras vítimas de violência sexual pudessem se inspirar em sua coragem: "Não quero que as mulheres sintam mais vergonha", declarou.








Durante a audiência, Gisèle direcionou suas palavras ao ex-marido, Dominique Pelicot, sem olhá-lo diretamente: "Não entendo como você, que era perfeito para mim, pôde me trair assim, trazendo homens para a nossa casa". O tribunal permaneceu em silêncio enquanto os vídeos, considerados provas decisivas, foram exibidos. Nas imagens, a vítima aparecia inconsciente, sendo abusada. Segundo seu advogado, Antoine Camus, a exibição dos vídeos era fundamental para "encarar o estupro de frente".

Outros homens

Cinquenta homens estão sendo julgados, a maioria acusada de estupro agravado. Dominique admitiu ter drogado a esposa e convidado outros homens para abusá-la, filmando os atos com duas câmeras. Ele acumulou mais de 20 mil vídeos e fotos, organizados em uma pasta digital chamada "Abuso". Os réus incluem motoristas, trabalhadores braçais e até um jornalista, muitos dos quais alegaram ter sido enganados pelo marido, acreditando que sua esposa fingia dormir como parte de um fetiche.

Embora o tribunal inicialmente tenha hesitado em exibir os vídeos devido ao conteúdo perturbador, parte deles foi apresentada como prova essencial. As gravações mostravam claramente que Gisèle estava inconsciente durante os abusos, contrariando qualquer argumento de consentimento.

Um dos momentos mais impactantes do julgamento ocorreu quando Serge Galvan, um dos espectadores, afirmou emocionado: "Quase sinto vergonha de ser homem. Estava claro que ela não estava consciente". O público aplaudiu Gisèle ao final da sessão, em um gesto de solidariedade à sua luta por justiça e por uma sociedade onde as vítimas não mais carreguem o peso da vergonha.



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