Dia nacional do combate ao bullying: como ajudar crianças nesta situação

Especialistas explicam como identificar os sinais de que seu filho pode estar passando por isso e como ajudá-lo a superar o trauma

O bullying é papo sério e que precisa de atenção
Foto: Pexels/CottoON
O bullying é papo sério e que precisa de atenção

Os ambientes frequentados por essas crianças podem não ser tão acolhedores quanto aparentam. Espaços de aprendizado e lazer como escola, clube e cursos de inglês, aulas de artes marciais, dança e outros podem ser locais de práticas de intimidação ou de brincadeiras sem graça, que geram traumas para seus alvos. Estamos falando do bullying .

Em 2019, uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo mostrou que 29% dos adolescentes entrevistados relataram ter sido vítimas de bullying , tendo 23% sofrido também com violência física. Para lidar com o problema, é fundamental o acolhimento da família da criança ou adolescente vítima de bullying. Além disso, os profissionais da escola também devem participar do processo.




"Se o ato aconteceu na escola, professores e gestores devem ser envolvidos para o melhor entendimento da situação. A escola, por meio desses agentes, deve monitorar e coibir atos de violência, de qualquer natureza, além de dar suporte as vítimas e seus familiares", diz Thiago Zola, mestre em Educação. 

Zola também ressalta a importância da criança se sentir segura para conversar: "Os pais não devem, em nenhuma hipótese, constranger a criança emitindo juízos acerca de determinadas posturas e ações. Isso faz com que a criança se sinta culpada e se feche".


Atenção aos sinais 


Nem sempre crianças e adolescentes vítimas de bullying procuram ajuda dos pais ou da escola. Neste caso, é importante que os adultos fiquem atentos a alguns sinais que podem indicar que ela está sofrendo algum tipo de violência psicológica. Observe se a criança sai da escola infeliz, fica introspectiva, se torna mais agressiva, chora por motivos banais e se isola. Essas mudanças no comportamento podem ser sinais de alerta. 

"Estes atos não ocorrem isolados, são praticados constantemente e para quem está sendo atingido fica como um martelo batendo na cabeça e sendo repetido pelo cérebro. A criança ou adolescente não consegue mais ter concentração na escola e em casa, fica o tempo todo pensando no que escuta, ou sente",  explica a psicopedagoga Sueli Conte.


A psicanalista Andréa Ladislau explica que esses sinais podem variar conforme a idade da criança. Segundo a profissional, crianças menores se sentem mais acuadas, evitam contato com outras crianças e podem apresentar dificuldades para alimentação e distúrbios do sono, chegando até a ter pesadelos. Isso ocorre pela criança ainda não ter condições de manifestarem e expressarem seus sentimentos. 

“O bullying muitas vezes é invisível aos olhos de professores, cuidadores e monitores. O "bully", ou o "valentão" responsável pelas agressões, geralmente é covarde e age apenas quando se sente seguro. Não pode faltar atenção às nuances de comportamento dos filhos. Em alguns casos, quando as agressões são físicas, é possível encontrar marcas. A investigação deve ser constante, mas sem constranger a criança”, diz Zola. 


Bullying e saúde mental 


O bullying está totalmente ligado a saúde mental das vítimas. Tanto os bullies (quem pratica a violência), quanto as vítimas podem ter a saúde mental comprometida. Ladislau explica que o bullying pode ser feito por valentões sofrerem emocionalmente no passado e passaram a utilizar a violência para extravasar essas emoções, para sair da posição de vítima.

Já a vítima do bullying pode ter a autoestima abalada, se sentir desvalorizada e humilhada, podendo desenvolver problemas como insônia, pensamentos autodepreciativos, dificuldade nos relacionamentos e episódios de depressões mais severos.

Como explica a psicóloga Bruna Richter: “Como o sujeito que pratica o bullying escolhe aqueles que são mais vulneráveis para praticar sua ação, há um grande número de crianças que sucumbem à agressão. Depressão, ansiedade e pânico são apenas alguns dos inúmeros transtornos que podem emergir pela repetição e exposição prolongada a esse tipo de agressão”.

A profissional reforça a importância de conversar com a criança, para fortalecer os vínculos de afeto para auxiliarmos no desenvolvimento de sua saúde mental. Porém, dependendo da gravidade do problema é recomendado procurar ajuda de um profissional qualificado.

Se o seu filho for um bullie, é importante desenvolver nesta criança a habilidade de ter empatia. "Isso só é possível em um ambiente seguro em que a criança consiga se expressar. Proporcionar reflexões, promover vivências significativas que permitam a essa criança o exercício dessa habilidade, tão importante e pouco praticada", explica Zola. 

Sueli também explica que a criança precisa ser orientada sobre seus comportamentos e solicitar a ajuda da escola ou de um psicólogo. "Existe um buraco emocional que o impede de ser feliz de outra maneira, que não o deixa perceber como é difícil ser humilhado. Assim, ele também está passando por uma situação de desconforto e estas sensações devem ser tratadas com paciência", conclui.