Desde muito tempo, a ansiedade tem sido uma presença constante na vida humana, embora a compreensão de suas origens tenha permanecido tema de grandes discussões. Mas e quando nasce a ansiedade?
Em nossa busca incessante por causas e soluções, voltamos nossa atenção aos primeiros momentos da existência humana. Assim, exploramos o ambiente primordial onde, provavelmente, a ansiedade já se manifestava.
Neste profundo mergulho nas raízes da vida, introduzidos por um campo emergente conhecido como Psicologia Perinatal , descobrimos que as sementes da ansiedade podem ser plantadas muito antes de nosso primeiro suspiro neste mundo.
Ao elucidar os mistérios que cercam esse período fundamental junto a nossos pais e familiares, que se estende da concepção ao parto, podemos desvendar não apenas a natureza da ansiedade, mas também os caminhos para sua superação e transformação.
O que é a Psicologia Perinatal?
A Psicologia Perinatal é vasto campo de estudos da natureza humana. Ela se concentra no período que envolve a concepção, gestação, parto e pós-parto, tanto para a mãe quanto para o bebê.
Ela investiga como as experiências emocionais e psicológicas durante essas fases impactam o desenvolvimento emocional, comportamental e mental do bebê, bem como o bem-estar emocional da mãe, conectada ao pai.
Este campo estuda uma ampla gama de tópicos, desde os efeitos do estresse materno no feto até a influência do parto na saúde mental do recém-nascido.
A Psicologia Perinatal reconhece a importância dessas experiências iniciais na formação da personalidade e na predisposição a diferentes condições emocionais e mentais ao longo da vida.
Atualmente, a Psicologia Perinatal engloba estudos de Epigenética, Neurociência, Embriologia e traumas precoces. Ela está revolucionando nosso entendimento sobre por que somos como somos e agimos como agimos.
Neste estágio inicial da vida, o sistema nervoso central (SNC) inicia seu desenvolvimento, atuando como um mecanismo essencial de defesa e processamento de estímulos.
Essa estrutura complexa é vital desde o começo, pois nos prepara para interagir com o ambiente familiar que nos aguarda.
Quando a ansiedade nasce no útero
A Psicologia Perinatal e estudos correlatos estão desvendando as origens da ansiedade, ou seja, quando nasce a ansiedade. Além de como comportamentos associados à procrastinação, insuficiência e ao medo do fracasso.
Muitas análises destacam as pressões da vida moderna, a competitividade profissional e os desafios em relações pessoais como gatilhos para a ansiedade. Enquanto isso, uma nova perspectiva sobre as raízes de nossas emoções e ações está emergindo.
Tradicionalmente, a Psicologia valorizou imensamente os primeiros três anos de vida e nossa infância na construção do nosso ser. No entanto é preciso ir antes nessa compreensão, aquelas que envolvem as circunstâncias das nossa origens fetais.
Refiro-me às circunstâncias da concepção, ao ambiente gestacional e à maneira como nascemos e fomos recebidos no mundo.
Antes do dia reconhecido como nosso nascimento, existe um período integral de nove meses – do zero ao nove, recomeçando no um, que celebramos anualmente como nosso aniversário.
Você já refletiu sobre a importância desse período fundamental em sua vida?
Não estamos discutindo apenas genética e DNA, mas o ambiente onde o DNA de nossos pais se uniu. O solo onde nossa “semente” foi plantada antes de chegarmos a este mundo.
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Você se sentiu bem-vinda (o) ao mundo?
Essas primeiras impressões estabelecem a base de nossa sensação de segurança ou insegurança com o sistema nervoso autônomo. Assim, se preparando para responder a agressores emocionais e físicos por meio da tensão e contração. Ou, na ausência de perigo, pelo relaxamento e crescimento.
Quando essas primeiras impressões são marcadas por circunstâncias difíceis e complexas, como, por exemplo, rejeição ou estresse, essas experiências iniciais preparam nosso organismo para um mundo percebido como mais arriscado.
Nos levam, desse modo, a uma predisposição à tensão, que vamos chamar no futuro de “ansiedade”. Essa é uma explicação para quando nasce a ansiedade.
Este é o estado do Sistema nervovo autônomo chamado de “Simpático”. Ele alimenta o medo de sobrevivência e desencadeia reações automáticas de luta, fuga ou paralisação.
A ansiedade é essa tensão defensiva contra riscos e perigos de um futuro incerto. Com isso, alimenta essencialmente o medo de reviver dores ou traumas que coloquem nossa existência em risco.
Não é algo que temos memória, pois isso fica gravado no inconsciente do corpo, que inclui a memória celular, neurobiológica e muscular.
A ansiedade na descoberta da gravidez
É interessante notar que a descoberta da gravidez geralmente ocorre por volta da quarta semana, quando nosso coração começa a bater. E então a notícia chega a mãe:
“Estou grávida…”
Esta notícia desencadeia uma enxurrada de questionamentos e uma considerável dose de ansiedade em nossos pais, que se perguntam:
- “Como será nossa vida daqui para frente?”
- “Teremos condições financeiras para receber este novo membro da família?”
- “Contarei com o apoio do(a) meu(minha) parceiro(a) nesta jornada?”
- “De que maneira isso impactará minha carreira ou vida profissional?”
- “Estamos preparados emocionalmente para sermos pais?”
- “Serei capaz de ser um bom pai/mãe?”
- “Nosso filho será saudável?”
- “E se eu não conseguir me adaptar às mudanças no meu corpo ou enfrentar o parto?”
Pesquisas indicam que, quanto maior o estresse e a tensão durante este período, que envolve a concepção até o parto, maior será a liberação de cortisol e adrenalina na corrente sanguínea. Esses são os hormônios de regulação e resposta ao estresse.
Isso afeta significativamente nossa configuração bioquímica desde o início da vida, sugerindo que ficamos condicionados a estar em alerta, reflexo do estado de tensão de nossos pais. Ou seja, a ansiedade nasce desde a nossa descoberta.
Atualmente, muitas abordagens buscam auxiliar as gestantes a alcançarem um estado de maior calma e relaxamento durante a gravidez. Isso porque ficou claro que o bem-estar do feto é influenciado não apenas pela alimentação, mas também pelo estado emocional da mãe e do pai.
Em um ambiente mais seguro, o feto tende a estar mais relaxado, ativando o sistema nervoso automático no modo chamado “Parassimpático”, que é responsável pelo estado que permite crescimento e expansão acelerados.
O que as pesquisas dizem sobre a gravidez e a ansiedade
De acordo com Gabor Maté, médico e autor renomado por seus estudos sobre vícios, estresse, ansiedade e desenvolvimento infantil, salienta a importância crucial do período perinatal na configuração do ser humano.
Suas observações ressaltam como as experiências e o ambiente durante a gestação e o nascimento podem influenciar de forma duradoura a saúde física e emocional, o comportamento e a predisposição a vícios e doenças crônicas na vida adulta.
Maté destaca que o ambiente emocional, social e físico em que a mãe se encontra durante a gravidez impacta profundamente o desenvolvimento fetal.
Por exemplo, o estresse materno pode provocar alterações no desenvolvimento cerebral do bebê, afetando o sistema de resposta ao estresse da criança e elevando a vulnerabilidade a problemas de saúde mental e física mais tarde.
Este período é considerado pela Psicologia Perinatal uma janela crítica para um desenvolvimento saudável, porque é onde condições adversas podem deixar marcas biológicas e psicológicas permanentes.
Portanto, é fundamental adotar uma abordagem holística e integrada para apoiar mães e famílias durante este período crucial, promovendo ambientes que favoreçam o bem-estar emocional e físico, reduzindo o estresse e maximizando o suporte emocional e social para as gestantes.
Isso inclui a importância do vínculo mãe-filho imediatamente após o nascimento, essencial para o desenvolvimento emocional e psicológico saudável da criança.
A primeira impressão
A teoria da programação fetal sugere que experiências e o ambiente durante a vida intrauterina podem influenciar de maneira duradoura a fisiologia e o metabolismo, predispondo aquele ser a condições de saúde mental, como a ansiedade.
Esse fenômeno está relacionado ao “imprinting” epigenético, processo pelo qual o ambiente gestacional pode alterar a expressão genética, afetando assim a resposta ao estresse e o comportamento emocional.
Publicações de renome, como a da Nature Neuroscience , enfatizaram que o comportamento materno pode modificar a expressão genética através de mecanismos epigenéticos devido ao ambiente, impactando no desenvolvimento comportamental e emocional da prole (Weaver, I.C.G., “Epigenetic programming by maternal behavior”).
Significativamente, a saúde mental da mãe durante a gravidez é um fator que pode influenciar a saúde mental da criança e do futuro adulto. Isso inclui a presença de ansiedade, depressão ou outros transtornos. A consequência, portanto, é o aumento do risco de desenvolvimento desses mesmos transtornos.
Eu nasci assim, e agora?
Descobrir que a origem da ansiedade pode residir nos primeiros dias de nossa existência, inclusivamente no útero, pode inicialmente sugerir um destino fixo.
Contudo, os avanços no campo da neurociência trazem uma perspectiva encorajadora, ou seja, de que a a neuroplasticidade do nosso cérebro abre um vasto leque de possibilidades para transformação e cura.
Esta área de estudo demonstra que, através do exercício consciente e sistemático da nossa vontade, somos capazes de estabelecer novas conexões sinápticas.
Ao explorar as raízes de nossos desafios, ganhamos insights sobre o funcionamento do nosso sistema de defesa, que frequentemente se manifesta sob a forma de ansiedade. Reconhecemos que o ambiente e os riscos associados ao momento do nosso nascimento, por fim, já não se fazem presentes.
Isso significa que podemos treinar nosso cérebro para fazer novas escolhas, pois ao descobrir a existência de uma história que gira em torno de um Roteiro de Nascimento, é possível não perpetuar mais escolhas inconscientes.
O Roteiro do seu nascimento explica quando nasce a ansiedade
Conhecer o Roteiro de Nascimento permite compreender profundamente o funcionamento das crenças originadas a partir dos eventos do primeiro ciclo de vida.
Vale lembrar que as crenças são representações mentais de alguma dor sentida quando ainda muito pequenos para processar a dor. Elas podem variar amplamente, e a partir experiências do período perinatal e dizer coisas como:
- “Eu não deveria estar aqui” (filhos não planejados)
- “Eu atrapalho as pessoas” (nascimento em momentos conturbados)
- “Não sou bom(a) o suficiente” (pais que queriam algo do filho, como por exemplo que ele fosse de determinado sexo)
- “Receber ajuda não é agradável” (nascidos de cesárea)
- “Não estou totalmente pronto” (prematuros)
Essas são apenas algumas das vozes de predisposições que, quando investigadas profundamente, podem ajudar as pessoas a não agirem mais de forma inconsciente.
Reconhecer esse padrão é o primeiro passo para a mudança, que interrompe os ciclos repetitivos de padrões de comportamento, que manifestam também através do stress e da ansiedade.
Reconexão para entender quando nasce ansiedade
A chave para superar essa condição está em reconectar-se com as raízes de nossa história, processando nossa primeira experiência para descobrir saídas. E, curiosamente, a saída é a mesma porta por onde entramos.
Podemos nos tornar conscientes de como funciona o nosso modo ansiedade e buscar um mecanismo para alternar do padrão de estresse para um estado de relaxamento e confiança, e para alcançar esse objetivos podemos incluir a meditação, visualizações, terapia do nascimento ou cognitiva e exercícios físicos e mentais.
Através da história do nosso nascimento, podemos encontrar respostas que sempre buscamos sobre nós mesmos e nossa vida, abrindo caminho para novas escolhas e uma nova percepção de nossa própria história.
Esta é a melhor resposta que podemos dar à nossa ansiedade: que está tudo certo, que os fantasmas que parecem existir são apenas ecos e vozes do passado, e que não precisamos mais temer o futuro, pois agora estamos conscientes do que é real e do que apenas uma história de quando eramos muito sensiveis e indefesos.
E assim a ansiedade já não tem mais utilidade e morre!
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Especialista em Psicologia Perinatal e criador do método do Mapa do Nascimento® que explora a influência dos traumas de nascimento na vida e relacionamentos, combinando ciência e autoconhecimento.
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