Se você está ligada nas redes sociais, com certeza já deve ter se deparado com o vídeo recente da briga entre duas irmãs de Pato Branco (PR), na hora de cantar os parabéns. O registro virou meme nos últimos dias, tornando-se um dos assuntos mais comentados da internet. Ele mostra uma cena muito comum nas festas infantis: a filha mais velha apagando as velinhas do bolo da caçula.
No entanto, o ocorrido gerou tantos compartilhamentos porque Maria Eduarda ficou brava e puxou a irmã, Maria Antônia, pelos cabelos – que, ainda assim, fingiu não se importar. A confusão arrancou risadas dos internautas e dividiu o universo online entre usuários que defendem uma ou outra. Mas, muito além das brincadeiras, também causou um questionamento: será que essa competitividade entre as duas é algo saudável?
Para a psiquiatra infantil Jaqueline Bifano, aparentemente é uma briga comum entre irmãs, e até mesmo os tapas e puxões de cabelo são naturais. Porém, é necessário tomar cuidado com a frequência dessa situação. “Nós não sabemos como funciona a relação no dia a dia. O que os pais têm que ficar alerta é se esses confrontos e agressões são constantes… E se estão sendo maiores e mais recorrentes do que as brincadeiras e os sentimentos como o amor, a cumplicidade, o cuidado e o zelo entre eles”, diz.
A médica explica, ainda, que os problemas de relacionamento entre os filhos, muitas vezes, são ocasionados por ciúmes: “É natural e normal. Uma criança, como qualquer ser humano, sente todo tipo de emoção. Um bom exemplo são os mais velhos que, antes da chegada do irmãozinho, eram os únicos e reinavam dentro de casa. De repente, o espaço e as atenções começam a ser divididas com a chegada do mais novo. Muitos passam por uma fase ciumenta, de profunda tristeza ou de querer chamar atenção, fazendo coisas erradas para tentar ganhar o cuidado e carinho dos pais. Isso acontece até que a criança perceba que não está mais sozinha, que agora tem alguém para dividir não só a atenção, mas a vida”.
Como os pais devem lidar com a briga entre irmãos
Apesar de a briga entre irmãos fazer parte do cotidiano de muitas famílias com mais de uma criança, muitas vezes os pais não sabem lidar com a situação da maneira correta, pois acabam tentando neutralizar os sentimentos dos filhos. “Ao invés disso, é importante perguntar a ele o que está sentindo ou por qual motivo fez determinada coisa, dando espaço para que expresse o que está acontecendo. Alguns pais tendem apenas a brigar, xingar ou gritar com aquele que iniciou a discussão em vez de tentar entender melhor”, orienta Jaqueline.
Além disso, é importante não incentivar a rivalidade entre os pequenos: “Outro ponto indispensável é evitar comparações como ‘por que você fez isso? Seu irmão jamais faria isso com você’. Cada ser humano é um universo particular. As comparações só pioram a autoestima e a relação entre irmãos”.
Os pais devem estar sempre atentos ao comportamento dos filhos e analisar se apresentam outras condutas diferentes das habituais. “Se a criança está manifestando algum comportamento estranho como apatia, agressividade e irritabilidade, inclusive em sala de aula; se está com algum sintoma característico da ansiedade, como roer unhas, fazer xixi na cama, insônia, sonolência excessiva, afastamento de outros pequenos e perda ou aumento do apetite, é sinal de que algo não anda muito bem com ela e de que um profissional precisa ser consultado”, finaliza.
Consultoria: Jaqueline Bifano, psiquiatra infantil, de Belo Horizonte (MG) | Texto: Mariana Oliveira | Entrevista e edição: Renata Rocha