Mas o que seria, então, a moda originária do Brasil?
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Mas o que seria, então, a moda originária do Brasil?

Nos últimos anos tem ganhado força um movimento que busca repensar a maneira pela qual se encara o mundo no chamado sul global. É o pós-colonial (ou estudos pós-coloniais ou pós-colonialismo, como também é referenciado), cujo objetivo central é dar voz e protagonismo ao pensamento e às visões de mundo dos povos originários de países que foram, em algum momento, colonizados. Além de produzir conhecimento, este movimento tem repercussões em muitas outras áreas da vida humana e se faz presente no cotidiano das pessoas mesmo que não se perceba.

A moda é um exemplo disso e ter o novo olhar sobre a maneira como nos vestimos seria uma insurreição contra os padrões que foram impostos pelos colonizadores e, por isso, tidos como hegemônicos nos países colonizados.

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Historicamente, os conceitos clássicos de moda sempre estiveram ligados à Europa, sendo a França considerada o berço da moda mundial e detentora da prática de alta costura. O processo de subversão dessa visão e a valorização daquilo que é local e originário são fundamentados, justamente, pela perspectiva decolonial e acontecem em países da América Latina, no continente Africano e na Oceania.

Mas o que seria, então, a moda originária do Brasil?

Seria muito difícil pensarmos em lago genuinamente brasileiro pelo próprio modo como o país se formou. A primeira participação do Brasil na moda global se deu na lógica colonial e extrativista, através das tintas de cor vermelha, que eram obtidas da madeira pau-brasil para tingimento de roupas. Diante disso, o mais sensato é evidenciar os povos originários, a cultura afro-brasileira e as culturas regionais de um país continental e plural, assim como, atualmente, dar destaque às produções que vêm das periferias.

Ainda assim é possível observar algumas expressões culturais no campo da moda que, mesmo que tenham sido impactadas pela influência europeia, se mantêm como importantes referências de identidades e práticas locais, a exemplo da chita, de influência indiana e que foi trazida pelos portugueses; o linho, que mesmo não sendo uma fibra natural do Brasil tem grande importância nacional e regional, no Ceará; e produções com o jeans, trazido dos Estados Unidos, e com o couro, também “importado” uma vez que, originalmente, não havia bois no território brasileiro.

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Os produtos que são fruto de releituras, a partir da perspectiva do processo de descolonização, também têm apelo no mercado e se tornam importantes fontes de renda para as pessoas que os fazem. Neste sentido, o capim dourado do Jalapão pode ser um exemplo, assim como a renda de bilro, uma técnica que foi trazida ao Brasil pelos portugueses e se concentra, hoje, em São Luís e Florianópolis.

Essa utilização de saberes regionais para a produção contemporânea é o caminho a se seguir da moda brasileira, que deve referenciar suas raízes e ser coletiva, diversa, descentralizada e estar em sintonia com a natureza. A moda é capaz de oferecer um caminho para a leitura da sociedade em um determinado tempo histórico e que a sua reinvenção deve ser, portanto, encarada como resistência, um ato político.

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