Respeitar as diferenças da personalidade de cada um é a chave para não reforçar a rivalidade exagerada
De acordo com a psicoterapeuta familiar Margarete Volpi, de São Paulo, alguma rivalidade é natural, mas sem exageros. “Quando não exacerbada, contribui e impulsiona no fortalecimento do vínculo, do afeto, da parceria”, afirma a especialista. Porém, entre irmãos, a disputa pela atenção dos pais pode fazer com que os filhos passem dos limites.
Antes de brigas e competições se tornarem acontecimentos diários, os pais devem estar atentos para não tratarem as crianças da mesma maneira. “É muito comum as famílias tratarem e educarem os filhos, principalmente do mesmo sexo e com idades próximas, exatamente da mesma forma, mas é um erro: é necessário respeitar as diferenças da personalidade de cada um”, explica Margarete. “O resultado de tratar os filhos da mesma maneira é que eles acabam não reconhecendo que são diferentes de fato, ainda que reivindiquem posturas distintas aos pais”, completa.
A neuropsicóloga Beatriz de Andrade Sant’Anna, da Unifesp, ainda esclarece que, se uma criança sente que é atendida nas necessidades individuais, a chance de haver uma rivalidade diminui. “Pode parecer contraditório, mas se a pessoa entende que precisa de coisas diferentes, pode entender a distinta necessidade do outro também”, explica. A especialista afirma que a diferença maior entre a idade dos irmãos pode até diminuir o risco da rivalidade, mas dependerá muito da relação que os pais estabelecem entre eles.
Esta integração saudável entre irmãos deve ser estimulada desde o momento da segunda gravidez. Dependendo da idade do primogênito da família, é preciso situar a criança do que está acontecendo e fazer com que ela participe da chegada do novo membro. “Se a criança se sente parte da família, se realiza algumas tarefas pelo irmãozinho ao lado da mãe ou do pai, vai ver o irmão como um companheiro, não um intruso”, completa Beatriz.
A partir dos seis anos da criança, a rivalidade pode se tornar mais presente entre os irmãos, mas desde antes os pais já devem se movimentar para que ela não ultrapasse as barreiras aceitáveis. Defender sempre o lado aparentemente mais fraco, como o mais novo ou a menina, por exemplo, não contribui para o aprendizado da convivência entre eles. “É muito comum isso acontecer, mas é preciso que os pais assumam papéis de orientadores, não de juízes”, explica Margarete.
Com isso, é possível evitar que a rivalidade seja projetada também na vida adulta, e se desdobre até em outros relacionamentos. “Nestes casos, somente a experiência de troca com pessoas de fora da família fazem com que a pessoa se abra e exercite o fortalecimento de um vínculo”, indica Margarete.