Mãe de um garoto identificado dentro do TEA (Transtorno do Espectro Autista), Juli Lanser Mayer tem sido uma das vozes incansáveis para o entendimento e o desenvolvimento de pessoas diagnosticadas dentro do espectro e também de suas famílias.
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A catarinense e influenciadora é médium e terapeuta e há anos ajuda pessoas a compreenderem os desafios cotidianos através da espiritualidade. Ela mesma encontrou sua missão de vida após ouvir de um especialista em autismo, que seu filho Rafael seria “como uma ameba”.
“Nesse momento, eu precisei olhar para o lado espiritual de tudo isso. Diagnóstico é só um caminho. A forma como você vai percorrer vai depender da dedicação e, obviamente, do conhecimento que essa família tem do seu filho e do autismo do seu filho”, diz a terapeuta.
Juli não desistiu do desenvolvimento do filho por causa do diagnóstico e, respeitando o tempo dele e as limitações, começou a estimulá-lo dentro de seus aprendizados espiritualistas.
Aos quatro anos, Rafael foi destaque na imprensa nacional por aprender a falar inglês antes do português, sem ao menos estudar ou ter convívio com a língua. Aos sete, o menino já conhecia nove idiomas, frequentava a escola e tinha um bom ouvido musical.
A partir de sua experiência, Juli decidiu compartilhar seus conhecimentos com outros pais, independente de religião, mostrando que o autismo não é uma “punição”, mas um propósito de vida para toda família.
"Eu vejo o autismo como uma missão, algo que vem para sua vida para ensinar uma maneira diferente de ver o mundo. O autismo não vem para ser uma tragédia, porque ele não é só daquela criança, daquele adolescente, daquele adulto. É da família. A família toda vai ter que mudar a forma de ver a vida”, explica.
A terapeuta não enxerga o autismo como uma deficiência “purgatória” e não concorda com versões espiritualistas estereotipadas (de que o autista seria um “suicida” em vidas passadas, por exemplo), o que ela propõe é um compromisso de vida, que traz consciência e transformação para o hoje.
“A gente está vivendo aqui e agora, neste estado material, nesta vida. Então, nesta vida, a gente tem que aprender a lidar com as diferenças. Aprender no coletivo. E como é que a gente aprende com as diferenças do outro? Quando a gente se transforma”, afirma.
Autora do livro “Ao TEA Amar: Me transformo, te ensino, te incluo” (Astral Cultural, 2020), Juli dá o passo a passo para enxergar o diagnóstico como um caminho a ser percorrido e descoberto por toda família, abrindo horizontes e possibilidades de aprendizado a todos, enquanto núcleo familiar e sociedade. A força motriz para essa revolução é o amor.
“Ao te amar, eu me transformo. Ao te amar, eu te ensino. Ao te amar, eu te incluo. É assim ao olhar para o meu filho e para qualquer pessoa também. O autista precisa disso e essa família precisa desse reajuste coletivo”, ensina.
No livro e em todos os ensinamentos que passa sobre o espectro autista, Juli Lanser Mayer compartilha a própria vivência como mãe e espiritualista para professar essa mudança de perspectiva. Rafael é apenas o terceiro dos quatro filhos da médium brasileira, atualmente baseada em Portugal com toda família. O diagnóstico do pequeno veio quando ela acreditava já ter aprendido tudo sobre maternidade e que estava no controle da situação.
"Quando eu me tornei mãe da Letícia, que hoje está com 17 anos, eu estudei tudo sobre maternidade. Veio a Letícia, tudo certo! Veio o Guilherme, tudo certo! E veio o Rafa e a vida mudou todas as respostas, dizendo que eu só conheci um lado da maternidade. E o avesso? Que pode ser tão perfeito quanto o lado direito?”, compartilha.
E foi justamente essa maternidade, de uma criança atípica, que fez Juli aprender que a perfeição é ilusão da matéria, e que não existem filhos imperfeitos.
“Eu acho que todo filho é perfeito para aquele pai e para aquela mãe. Não existe filho imperfeito. A imperfeição que a gente vê, muitas vezes é por conta de um diagnóstico ou de uma deficiência. A vida é uma escola e estamos na escola da vida para aprender. O aprendizado pode ser em uma deficiência, em um cérebro processando as coisas de uma maneira diferente, em uma cor de pele diferente. Você pode vir em uma experiência mulher, em uma experiência homem, mas tudo é aprendizado. A gente erra quando tenta enquadrar todo mundo”, defende a terapeuta.
Para finalizar, Juli Lanser Mayer costuma dar um conselho para pais de crianças neurotípicas que, frequentemente, sentem medo de ter o segundo ou terceiro filho, por causa do diagnóstico de uma criança com autismo na família.
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“Eu tenho quatro filhos! Só o terceiro é autista, os outros não são. Então coloque na sua mente e no seu coração, que vai vir o filho perfeito para você e você vai estar preparada para o filho que vier. Filhos considerados neurotípicos não são garantia de sucesso, de perfeição, de estabilidade, que serão filhos educados, que cuidarão de você na velhice. Assim como um filho atípico, um filho que seja considerado diferente pela deficiência ou seja por alguma outra adversidade, que ele não vai te trazer felicidade, que ele não vai te trazer orgulho e ser o grande bálsamo e motivador na sua vida, para seguir em frente, lutar e fazer a diferença na vida das pessoas. Eu não sou quem eu sou hoje, se eu não tivesse o autismo na minha vida. Confia na tua intuição”, conclui.