Foto de Laura Garcia no Pexels
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As questões por trás do costume de furar as orelhas dos bebês


Na semana passada, a influenciadora Virgínia Fonseca desabafou nas redes sociais após receber críticas por querer furar as orelhas da filha Maria Alice , fruto do seu relacionamento com o cantor Zé Felipe. A filha do cantor Leonardo disse que não sabia se poderia ou não furar a orelha do bebê, consultou profissionais especializadas e acabou optando por não colocar os brincos. 






As críticas diziam, em sua maioria, que Virgínia não estava sendo uma boa mãe por querer furar as orelhas de Maria Alice, causando uma dor desnecessária e impedindo que essa escolha partisse da sua filha no futuro. O costume de furar as orelhas precocemente tem sido muito discutido ao longo dos anos, pois questões relacionadas à liberdade corporal, principalmente das meninas, emergiram com mais força.

Além disso, o hábito de furar as orelhas parte do princípio de que o sexo dos bebês precisa ser constantemente reafirmado, tanto que é comum ouvir as pessoas perguntarem para a mãe de um bebê que não tem as orelhas furadas: “é menino ou menina?”. Apesar de não ter furado as orelhas da filha num primeiro momento, na última terça-feira (13) Virgínia postou em seu Instagram uma foto de Maria Alice usando um par de brincos.

Na contramão do costume de furar as orelhas do bebê, Camila Gomes, 35 anos, atriz, optou por não furar as orelhas da filha Lina, de 4 meses, pois considera que as intervenções no corpo da criança devem ser escolha dela. “Contanto que não seja algo necessário para a saúde e bem-estar da minha filha, a decisão de qualquer tipo de procedimento precisa ser tomada por ela”, explica. 

Isabele Nascimento, 23 anos, maquiadora, que também não furou as orelhas da filha Sophie Emanuelle, de 2 anos e 5 meses, diz que pessoas de fora da família perguntavam com frequência se ela furaria ou não as orelhas de Sophie. “Quando eu dizia que não, sempre falavam que não daria para saber se ela é menina ou menino”, conta. Camila, por sua vez, nunca recebeu críticas sobre o assunto, mas conta que indiretamente as pessoas estranharam sua decisão. 

Para a psicóloga Bruna Falleiros, essa decisão, quando tomada pelos pais antes que a criança tenha autonomia de decidir por si só, impõe costumes na vida dela que lhe fazem assumir comportamentos inconscientemente. “É uma marca corporal difícil de mudar futuramente, se for da vontade da pessoa”, esclarece. 

Isabele diz que a sua vontade é que a menina cresça livre, então o processo de empoderamento deve começar desde cedo. Ela acrescenta que o costume de colocar os brincos quando a criança ainda é bebê reforça estereótipos de que a mulher deve seguir certos padrões, como usar maquiagem e cabelos compridos, e alimenta a ideia de que “mulheres não têm poder de escolha sobre o próprio corpo desde que nascem”.

Bruna pontua que, quando há muitas pessoas ao redor reforçando marcadores de gênero (brincos, esmaltes e saias, por exemplo), criam-se restrições no subconsciente da pessoa quanto às formas que ela pode vivenciar a própria existência de maneira mais autônoma. “Essa ação (furar a orelha das meninas quando bebês) é impositiva e não educativa, então mantém as crianças limitadas e engessadas em uma única forma de ser”, diz. 

A psicóloga cita ainda a possibilidade da criança se descobrir trans futuramente, e explica que, devido ao reforço de estereótipos e à afirmação constante da anatomia biológica, “quando há uma ruptura em termos de identidade de gênero, o impacto nessa família é muito grande e a dificuldade de aceitação é muito maior”.


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