Gravidez fora de hora, doenças sexualmente transmissíveis e perfomance no sexo são alguns dos dilemas enfrentados pelos adolescentes que estão pensando em iniciar ou já iniciaram a vida sexual. Entretanto, esses não são os únicos dilemas que passam pelas cabeças dos jovens. “Quem eu sou?”, “Quem eu quero ser?”, “O que eu quero fazer da minha vida?” e “Devo fumar” são outras questões que também preocupam os mais novos, e a educação sexual deve levar isso em consideração.

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Pensar em educação sexual é pensar também nos outros dilemas dos jovens, como o que ele quer ser como pessoa
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Pensar em educação sexual é pensar também nos outros dilemas dos jovens, como o que ele quer ser como pessoa

O alerta foi feito pela psicóloga, educadora sexual e jornalista Laura Muller durante evento do Dia Mundial da Prevenção da Gravidez Não Planejada, que foi celebrado na semana passada, no dia 26 de setembro. Para a especialista, conhecida pelo seu quadro no programa "Altas Horas", da TV Globo, em que fala justamente com os jovens sobre sexo, não há dúvidas: educação sexual é sobre repetir, repetir, repetir e repetir.

“Nas minhas palestras, às vezes, um jovem faz um pergunta aqui e, depois de algum tempo, alguém do outro lado faz a mesma pergunta”, explica Laura Muller. “Isso quer dizer que ele estava fazendo bagunça? Não necessariamente. O jovem podia não estar preparado para ouvir sobre o assunto. Às vezes, o adolescente está impedido de ouvir sobre sexo porque é um assunto complexo.”

Tabu

Já estamos em 2017, entretanto, falar sobre sexo ainda é complicado. Educação sexual, então, nem se fala, já que muitas pessoas são contras a introdução do tema não escolas ou não acham certo falar sobre o assunto com crianças e adolescentes.

O problema, para os especialistas, é que estas mesmas crianças e adolescentes passam a aprender sozinhas sobre sexo, muitas vezes de fontes erradas. Para se ter ideia, de acordo com pesquisa  realizada pela farmacêutica Bayer, com apoio do Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a internet é a escolha favorita de 60% dos homens brasileiros a partir de 15 anos para quando há alguma dúvida sobre sexo. E em época de fake news, as notícias falsas que rodam pela internet, isso é preocupante.

“Existe informação. A gente explica que os métodos hormonais são os mais eficazes para evitar uma gravidez indesejada, e que aliada à camisinha elas formam uma dupla dinâmica – evita também a transmissão de DSTs –, a informação é até simples, mas e na hora da transa?”, questiona Laura.

O “problema” da camisinha, para os homens em geral, é que eles ficam com medo de acabar com o clima do momento na hora de parar o que está fazendo com a parceira para colocar o preservativo. Para os mais novos, então, isso é mais preocupante ainda, já que se sair bem na cama é essencial para eles.

Já os outros métodos, explica Laura, requerem uma preparação pré-sexo. O anticoncepcional, por exemplo, exige que a garota tome o comprimido todos os dias e no mesmo horário. Para alguém que está em fase de transição, de adolescente para adulto, pode ser muita coisa. “Há os hormônios, as preocupações normais da fase, a ansiedade, as dúvidas, e o sexo é só mais uma questão.”

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A especialista acredita que a única forma de ajudar realmente os mais jovens é promovendo uma educação sexual compartilhada pela sociedade, com cada indivíduo fazendo sua parte. Os pais tendo as conversas que os filhos precisam, respondendo apenas aquilo que eles perguntam e estão preparados para ouvir, a escola fazendo sua parte e o governo a dele.

“É importante lembrar também que não é fácil ser adolescente. Na hora da educação sexual é importante buscar por uma fala que oriente e que também acolha esse jovem. Os mais velhos precisam que são muitos dilemas passando pela cabeça deles, é preciso lembrar de quando a gente foi adolescente.”   

Necessidade de educar

Camisinha feminina é opção para mulheres se protegerem de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada
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Camisinha feminina é opção para mulheres se protegerem de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada

Enquanto o mundo registrou uma diminuição de 11% no número de novos casos de Aids entre 2010 e 2016, o Brasil teve um aumento de 3% no mesmo período, passando de 47 mil novos casos para 48 mil, de acordo com os dados mais recentes da Unaids, programa das Nações Unidas sobre a doença sexualmente transmissível.

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O mais triste é ver o crescimento da Aids entre os jovens. De 2006 a 2015, a taxa de detecção de casos da doença entre jovens do sexo masculino com 15 a 19 anos quase que triplicou – de 2,4 para 6,9 casos por 100 mil habitantes –, e entre os jovens de 20 a 24 anos, a taxa mais do que dobrou – de 15,9 para 33,1 casos por 100 mil habitantes.

E além dos 40 mil novos casos de DSTs registrados no Brasil anualmente, segundo o Ministério da Saúde – entre Aids, sífilis e hepatites virais –, a gravidez na adolescência ainda é um problema que preocupa muito os especialistas.

São Paulo é um Estado que conseguiu reduzir em 40% o número de gestantes entre 10 e 14 anos, levando em consideração os anos de 1998 até 2016. Foi o melhor desempenho de todo o Brasil nos últimos, entretanto, ainda era registrado no ano de 2015 um nascido a cada três horas e 25 minutos por crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. 

Glamourização do sexo

Outra preocupação dos pais é a importância que é dada ao sexo na sociedade atual. Não é difícil encontrar músicas que citem atos de uma relação sexual. E se as letras chegam aos ouvidos dos pais, chegam também, e às vezes até primeiro, aos ouvidos dos filhos.

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"Não há como impedir o adolescente de ouvir a música", alerta a psicóloga Laura Muller. E por conta disso, a educação sexual se torna, mais uma vez, necessária. "Os pais precisam conversar com os filhos sobre o assunto e a escola também, para que eles tenham senso crítico e saibam fazer suas próprias escolhas." 

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