A obesidade é considerada a Doença Crônica Epidêmica Não Transmissível (DCENT) mais frequente do século. O descuido com a alimentação já está afetando as crianças e a obesidade infantil vem ganhando grandes proporções. Diversas pesquisas foram realizadas sobre o tema e os resultados indicam que o problema pode começar ainda gravidez.
As mães de plantão não precisam se desesperar, o pediatra e homeopata Moises Chencinski deixa claro que são diversos os fatores que podem levar à obesidade infantil . “O sobrepeso é uma questão multifatorial. Não há culpados, não há um fator isolado que deva ser analisado. Isso pode ser comprovado pela enxurrada diária de novos artigos e abordagens sobre o tema”, diz.
Na busca por descobrir a causa do problema, diversos estudos recentes falam sobre como o estilo de vida que a mãe leva pode influenciar na obesidade dos filhos. Os resultados são curiosos e o pediatra diz que tudo que foi revelado nos estudos pode ser controlado se diagnosticado precocemente e se a mãe realizar o acompanhamento necessário.
Mulheres acima do peso
Um estudo publicado pelo site CDC (Central for Disease Control and Prevention) revela que, de todas as mulheres que engravidaram e tiveram os dados incluídos no Certificados de Nascimento de 2014, cerca de 50% estavam acima do peso antes de ficarem grávidas. Esse quadro é o mais grave já relatado nos Estados Unidos.
“Entre as principais consequências diretas desse fato estão as maiores chances de diabetes gestacional e hipertensão arterial, que podem aumentar as chances de parto cesariana e pode trazer mais complicações posteriores para as mães e para os bebês”, explica Moises.
Gordura na alimentação
O Genome Medicine divulgou que as gestantes que ingerem grandes quantidades de gordura podem interferir na formação da microbiota intestinal dos bebês, afetando no desenvolvimento do sistema imune e na evolução de peso da criança.
“Os bebês de gestantes que tiveram uma alta taxa de ingestão de gordura apresentavam, em sua flora bacteriana intestinal avaliada, tanto ao nascimento quanto semanas após o parto, menos Bacteroides (‘flora do bem’) do que as das mães que tinham uma ingestão de gorduras mais adequada”, informa o médico.
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Parto normal e cesariana
Quando a criança nasce de parto via vaginal, a formação da microbiota intestinal do bebê é mais adequada, protegendo contra infecções, alergias e o risco de obesidade. Essa é a conclusão do estudo divulgado pelo JAMA Pediatrics (Journal of American Medical Association), que acompanhou 22.000 partos de 15.271 mães, entre setembro de 1996 e dezembro de 2012.
“Os dados comprovaram, nesse estudo, um risco 15% maior de sobrepeso e obesidade em crianças nascidas por parto cesariana. Em famílias onde irmãos nasceram por vias diferentes (um via vaginal e o outro via cesariana), os que nasceram por parto cesariana tiveram 64% mais de chances de sobrepeso e obesidade do que os nascidos por parto normal”, esclarece o pediatra.
Vale ressaltar que outros fatores podem ter contribuído para a obesidade dos participantes, como a dieta da mãe, diabetes gestacional e se o bebê foi amamentado ou não. Mas os idealizadores da pesquisa garantem que esses fatores foram estatisticamente corrigidos.
Diabetes gestacional
A diabetes gestacional pode aumentar em 53% o risco de obesidade em crianças de 9 a 11 anos. É o que indica a pesquisa do jornal on-line Diabetologia que analisou 12 países (África do Sul, Austrália, Brasil, Canadá, China, Colômbia, Estados Unidos, Finlândia, Índia, Quênia, Portugal, Reino Unido) e levou em consideração os critérios de American Diabetes Association e da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Porém, de acordo com os próprios pesquisadores, a relação entre a exposição ao quadro de diabetes intra-útero e o sobrepeso ainda não está esclarecida. “Possivelmente, o crescimento fetal no útero desses bebês, submetidos a índices mais altos de glicemia materna, levando a um aumento de níveis hormonais fetais pode estar envolvido no processo”, sugere Moises.
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Confiança nos dados
É preciso mais tempo antes de considerar o resultado das pesquisas como algo totalmente confiável. “Pesquisas e mais pesquisas sobre a obesidade infantil são necessárias, pois essa história de comer menos, se exercitar mais e fornecer uma dieta pronta para todos não está funcionando. Os profissionais de saúde precisam se certificar de que os pacientes compreendem perfeitamente os diversos fatores que contribuem para o excesso de peso”, completa o pediatra.