- Tó, filho, sua bananinha.
Franco vira a cara.
- Come, filho, a banana que você pediu. Ó, tá gostosa...
Aproximo a fruta da boca e ele se afasta. “Meu Deus, o que aconteceu? Ele evoluiu nisso, estava comendo pedaços... Mas agora parece que retrocedeu. A repulsa ao alimento voltou!”
- Vamos, filho...
Você viu?
Enquanto esse trem desgovernado de perguntas passou voando pela minha cabeça, as lágrimas começaram a correr. Ajoelhada ao lado do meu filho, abaixei a cabeça diante dele (e da banana)"
Começa o choro. Gritos. Culpa. Fiquei muito tempo sem dar fruta em pedaços pra ele. É isso. Eu não podia ter voltado a dar a banana amassada depois que ele aprendeu a comer pedaços. Agora vai retroceder. Vai ser assim com tudo. Um vacilo meu e ele vai retroceder no desenvolvimento. Mas será possível que eu não vou poder relaxar nunca? Um instante? Nada no desenvolvimento dele é definitivo? Será? Tanto esforço pra ele conseguir e agora isso????”
Enquanto esse trem desgovernado de perguntas passou voando pela minha cabeça, as lágrimas começaram a correr. Ajoelhada ao lado do meu filho, abaixei a cabeça diante dele (e da banana). Ele olhou no fundo dos meus olhos nessa hora. Não sustentei o olhar. Estava prestes a levantar, rendida, para amassar a fruta.
Antes disso, respirei fundo e apontei a banana pela última vez para a boca do Franco. Calmamente, ele abriu, mordeu, mastigou, me encarou e voltou a apertar a massinha de modelar na mesa. Meu choro veio com tudo. Foi a primeira vez que senti meu filho me enxergar. Ele, de fato, me viu. Foi como se desviasse de um bloqueio por mim, para me ajudar a sair daquela angústia.
O choro deu lugar ao alívio. Percebi que Franco só externava emoções para atender suas próprias necessidades. Mas, naquele dia, eu o vi inaugurar o caminho da compaixão.
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* Odara Gallo é formada em Jornalismo desde 2006, mas só criou coragem para ter um blog dez anos depois, quando descobriu que seu filho, Franco, tinha Transtorno no Espectro Autista. Às sextas, escreve sobre sua experiência no Delas. "Num dia Franco era uma criança diferente. No seguinte, eu era mãe de uma criança autista. Um pouco do que aconteceu dentro de mim com essa mudança quis sair e se desenhar em palavas. Nasceu esse blog. Quê