O assassinato de Bianca Consoli está prestes a completar nove anos. O sentimento de Marta Maria Ribeiro Consoli, mãe da vítima, é de indignação: o ex-genro, Sandro Dota, que matou Bianca, foi absolvido das acusações de estupro contra os dois netos de Marta. "Nós ainda não descobrimos de quem foi essa determinação, mas vamos reverter isso", diz.

Bianca Consoli foi morta aos 19 anos pelo cunhado Sandro Dota
Reprodução/Facebook
Bianca Consoli foi morta aos 19 anos pelo cunhado Sandro Dota

Os netos de Marta  -- e, na época, enteados de Sandro -- tinham 6 e 11 anos. Uma menina e um menino, respectivamente. Ele era casado com a outra filha de Marta, Daiana Consoli. Ela se revolta com a absolvição e por ver que a história dos netos foi colocada em dúvida.

"Meus netos foram culpados de quê? Eles foram culpados por terem sido abusados?", diz Marta. "A mente dos meus netos nunca mais vai ser a mesma. Isso nunca vai sair da cabeça deles". De acordo com Marta, a neta se recorda exatamente o que sofreu nas mãos do padrasto durante seu último abuso, que teria acontecido um dia antes da prisão de Sandro.

Mesmo preso desde o dia 12 de dezembro 2011, em  Tremembé II (presídio de São Paulo), qualquer possibilidade de redução de pena ou soltura de Sandro -- sentenciado a 21 anos de prisão -- causa temor à família, que até mudou de endereço após assassinato de Bianca Consoli, em setembro do mesmo ano.

"Ele mandou uma carta para a minha filha, ex-mulher dele, pedindo desculpas para as crianças. Para mim, isso é uma jogada de Sandro Dota. Como ele afirma que nunca estuprou os meus netos e depois pede desculpa de algo que ele não fez? Se você não deve nada, não pede perdão", diz. Ela afirma que, até hoje, Sandro ameaça a família Consoli de morte.

Com a voz embargada, Marta relembra o sofrimento da filha, morta aos 19 anos. "Bianca sofreu muito na mão dele. Ela foi estuprada, as partes íntimas dela foram cruelmente abusadas, mas a Justiça já foi feita", diz, enquanto chora. Agora, ela conta que sua luta é para que os netos também consigam o mesmo. "Imagina para essas crianças inocentes serem abusadas por um homem que agora quer pagar de coitadinho. Meu neto era sufocado com um travesseiro. Isso não é justo. Ele é manipulador, maquiavélico e psicopata."

Sandro Dota
Reprodução/TV Record
Sandro Dota

Justiça falha?

Embora ainda esteja recorrendo para reparar a decisão da Justiça, Marta Consoli considera a Justiça muito falha. "Nós, vitimas, não temos direito à justiça. Eles vão encontrando brechas e mais brechas para conseguir reverter o caso. O julgamento, para mim, não passa de um teatro, onde a Justiça brinca de fazer justiça e com os sentimentos da família da vítima."

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"Ele foi sentenciado, mas eu nunca mais vou ver a minha filha em vida. Eu visito toda semana um túmulo gelado e sempre levo flores. Já a família dele pode vê-lo na cadeia, vivo, e ele ainda tem coragem de mandar recado para a gente... Até manda beijo para a minha neta", conta.

Marta Consoli
Reprodução/Facebook
Marta Consoli


Marta afirma que não pensa em vingança. "Eu luto pela justiça. Se você me perguntar se eu quero que ele morra, eu digo que não. Nunca sujaria as minhas mãos com o sangue dele. Só quero que ele deixe a minha família em paz", diz. "Tudo o que ele fez com a minha família eu não desejo para a família dele."

"Bianca está num lugar lindo"

Hoje, a mãe conta que consegue falar mais sobre tudo o que a família passou, mas isso não era possível há pouco tempo. "Agora, eu consigo falar da minha filha e de tudo isso, mas há quatro anos eu não falava nada, porque era uma dor que parecia que eu estava morrendo junto. Como a gente tem Deus no coração, eu sei que ela está num lugar lindo, mas tem vezes que o chuveiro é o seu melhor amigo. Lá é onde você chora e ninguém vê."

Marta conta que, apesar de ser cristã, passou por muitos momentos de revolta até com Deus. "No começo, eu briguei com Deus. Eu me perguntava por que ele tinha permitido que isso acontecesse com a minha filha."

Marta Consoli
Reprodução/Facebook

Marta Consoli

A mesma fé ajudou Marta a se reerguer e procurar ajuda em grupos de mães que passaram pela mesma perda. Hoje, ela ajuda outras famílias que buscam que os assassinos de suas filhas também paguem pelos crimes que cometeram. "A Justiça só nos atende através dos nossos gritos, das nossas lágrimas e dos nossos sofrimentos. Por isso, sempre pego meu megafone e vou às manifestações para lutar pelo meu caso e pelo de muitas vítimas que viveram o mesmo".

Lei Maria da Penha

Na sexta-feira (7), a Lei Maria da Penha completou 14 anos, mas Marta ainda acredita que algumas mudanças precisam ser feitas para que seja mais efetiva. "Os nossos códigos penais precisam ser mudados e a lei precisa ser mais pesada. O homem bate, mata, estupra e nada é feito", diz.

Marta fala sobre a importância da denúncia e que espera que a morte de Bianca e os crimes contra os netos sirvam de alerta. "Espero que outras mulheres que sofrem por aí com abuso de cunhados, tios ou até pais não fiquem caladas. A Bianca se calou porque ele a ameaçava. Falava que ia me matar caso ela abrisse a boca."

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