Entenda o que é Síndrome da Boazinha e como se livrar dela
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Entenda o que é Síndrome da Boazinha e como se livrar dela

Você já deve ter conhecido alguém que se sobrecarregou em uma tarefa, doou o que não podia e até comeu algo que não gostava só para não magoar a avó. Ela pode sofrer da Síndrome da Boazinha, que é uma compulsão por agradar. A compulsão é um comportamento impulsivo, automático, motivado por emoções e padrões de pensamento que levam a pessoa a desenvolver uma dificuldade crônica em dizer não. O termo Síndrome da Boazinha foi cunhado pela doutora em psicologia, Harriet B. Braiker, no livro de mesmo nome. 

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A analista de importação, Izabella Rocha Ramos, de 21 anos, se identifica com a condição, que a coloca no papel de se comprometer com tarefas demais e que poderiam ser distribuídas de uma forma melhor, se ela conseguisse verbalizar. A analista conta que certa vez foi abordada por um vendedor de serviços odontológicos e acabou sendo levada para uma enorme clínica. Sem saber como desvencilhar-se, foi até examinada por um dentista, mas não queria colocar aparelho e ficou irritada com a insistência dos funcionários.

“E aí ele me mostrou toda a clínica, todas as salas, passei por avaliação. Depois de muito tempo me passaram um orçamento para colocar aparelho e eu finalmente consegui dizer que não era uma prioridade. Então me informaram que eu só poderia ir embora se o gerente liberasse e ele me chamou de desleixada”, descreve, a jovem foi embora com vontade de chorar.

A psicóloga especialista em neurociência aplicada ao comportamento humano, Sabrina Amaral, explica que embora não seja uma condição clínica reconhecida oficialmente no código internacional de doenças (CID-10). “Esse comportamento complacente, como da Izabella perante a insistência do vendedor, é prejudicial a partir do momento que gera uma preocupação excessiva em corresponder às expectativas dos outros, a despeito das próprias necessidades e ultrapassando os limites saudáveis. A condição atinge tanto homens quanto mulheres, porém, devido ao modelo educativo feminino voltado a ajudar, a cuidar e a ser devoto ao outro, é mais comum em mulheres”, destaca a especialista.

Um estudo divulgado pela Associação Americana de Psicologia , ajuda a entender a compulsão por agradar. Através de uma ressonância magnética funcional, o grupo de profissionais registrou a atividade cerebral enquanto os participantes eram expostos a vocalizações enfáticas das palavras sim e não.

 Os resultados mostraram que as respostas de comportamento cerebral foram opostas; enquanto o não foi recebido de forma negativa, produzindo tempos de resposta mais lentos e emitindo um sinal negativo no córtex orbitofrontal lateral direito (OFC), o sim foi positivamente sentido, produzindo tempos de resposta mais rápidos, e evocando um sinal positivo em uma região contígua do OFC. Em conclusão, para o cérebro humano, o sim soa melhor. 

Se você se identificou até aqui com a Síndrome da Boazinha, a especialista apresenta outros sintomas para não restar dúvidas:

Dificuldade em dizer 'não'

Uma das características mais marcantes é a de ter grande dificuldade em estabelecer limites e dizer não às demandas dos outros, mesmo que isso signifique sobrecarregar-se ou abrir mão de suas próprias necessidades. “Dizer não é uma habilidade social importante e que, infelizmente, é pouco incentivada na educação das crianças, especialmente na cultura latina. O motivo disso pode ser o medo de rejeição ou conflitos, de perder amizades, prejudicar relacionamentos ou criar atritos. É  fundamental reconhecer a importância de estabelecer limites saudáveis em relacionamentos pessoais e profissionais. Isso envolve aprender a dizer ‘não’ quando necessário, expressar suas necessidades e desejos de forma clara e assertiva, e cultivar relações equilibradas baseadas no respeito mútuo”, afirma Sabrina.

Baixa autoestima

Acontece quando há uma visão negativa de si e busca pela validação e aprovação externa para se sentir valorizada. É comum a crença de que a autoestima está diretamente ligada à capacidade de agradar aos outros, por isso se associa o ‘não’ ao risco de ser menos amada ou valorizada. “A falta de limites adequados pode levar a uma diminuição da autoestima. A pessoa começa a se sentir desvalorizada, como se suas próprias necessidades e desejos não fossem importantes. Isso afeta negativamente sua autoconfiança e autoimagem. Ao priorizar  as necessidades dos outros e não estabelecer limites saudáveis, a pessoa se desconecta de sua identidade e deixa de atender às suas próprias necessidades e desejos.  Isso desencadeia sentimentos  de vazio e falta de realização pessoal”, lembra Sabrina.

Auto exigência exacerbada

A necessidade de ser perfeita gera uma pressão interna gigantesca alimentada por padrões elevados que são quase impossíveis de serem alcançados. A crença de que ‘eu tenho que ser perfeita’ gera sofrimento e ansiedade. 

Sacrifício das próprias necessidades 

O hábito de colocar as necessidades dos outros acima das suas, chegando a se sacrificar emocionalmente, fisicamente ou financeiramente para agradar. A dificuldade em estabelecer limites pode resultar em relacionamentos desequilibrados e desgastantes, nos quais uma pessoa acaba assumindo o papel de cuidadora e provedora de suporte constante, enquanto a outra pode se tornar dependente ou exploradora, de maneira que, um dos lados se sente sobrecarregado e o outro lado não aprende a lidar com sua própria responsabilidade.

Dificuldade em expressar emoções negativas

Há uma tendência a evitar conflitos e reprimir emoções negativas, como raiva, frustração ou tristeza, com receio de rejeição e julgamento, ou mesmo perdendo o amor e aprovação dos outros. Associam o fato de dizer não a serem egoístas ou inadequadas, mesmo quando precisam cuidar de si mesmas.  

A importância de dizer ‘NÃO’

Quando uma pessoa não consegue estabelecer limites e constantemente coloca as necessidades dos outros acima das suas próprias, ela pode se sentir sobrecarregada, ressentida e frustrada. Esses sentimentos vão se acumulando ao longo do tempo, trazem uma sensação de desequilíbrio nos relacionamentos e prejudicam o bem-estar emocional. 

“Superar a dificuldade em dizer não requer um processo de autoconhecimento e desenvolvimento de habilidades de assertividade. Isso envolve identificar e desafiar crenças limitantes, construir autoestima saudável, aprender a estabelecer limites, praticar a comunicação assertiva e aceitar que dizer não é um direito legítimo que todos possuem”, orienta Sabrina. 

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Como dizer? Aprender a dizer "não" de maneira assertiva e respeitosa é um processo gradual. É importante ser gentil consigo mesma e celebrar cada pequeno progresso. Com o tempo, você ganhará confiança em estabelecer limites saudáveis e construir relacionamentos mais equilibrados e gratificantes.  Aqui vão três dicas da psicóloga para começar:

PRATIQUE Se dizer ‘não’ diretamente é difícil no início, experimente técnicas como adiar uma resposta, oferecer uma alternativa ou dizer que precisa pensar sobre o assunto. Isso dará tempo para processar a solicitação e responder de maneira mais assertiva posteriormente. Aprenda a expressar suas necessidades e desejos de forma clara, direta e respeitosa. Use linguagem afirmativa e evite justificar excessivamente suas decisões. Por exemplo, troque ‘Eu não posso ajudar porque tenho outros compromissos’, por ‘Não, desculpe, não posso ajudar desta vez’.

DEFINA LIMITES Trabalhe o autoconhecimento para identificar seus limites pessoais e profissionais. Considere o que se dispõe a fazer e o que está fora dos seus limites. Isso pode incluir a quantidade de tempo e energia a investir em ajudar os outros. Além disso, observar qual é a motivação interna para fazer algo por alguém, se há uma compulsão em agradar, conseguir aprovação ou fugir de conflitos.

PRATIQUE AUTO AFIRMAÇÃO Reconheça que suas necessidades e desejos são válidos e importantes. Pratique afirmações positivas para fortalecer sua autoestima e autoconfiança, lembrando-se que dizer ‘não’ é importante e que não te torna egoísta ou inadequado. Lembre-se de que é normal sentir-se desconfortável ao estabelecer limites pela primeira vez e mudar leva tempo e prática. Prepare-se para lidar com qualquer reação negativa dos outros e lembre-se de que cuidar de si é essencial.

A especialista Sabrina Amaral finaliza exemplificando: “Pessoas generosas e prestativas têm a capacidade de equilibrar suas próprias necessidades com as dos outros e estabelecer limites. Já aquelas com a Síndrome da Boazinha podem negligenciar suas próprias necessidades em detrimento dos outros, levando a um desequilíbrio prejudicial para sua própria saúde e bem-estar”.

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