O influenciador digital Léo Picon (26) revelou, em suas redes, que sofre com abuso sexual desde o começo de sua adolescência na última quinta (22). O jovem, que iniciou sua carreira como ‘colírio’ da revista Capricho, afirmou que os abusos acontecem desde os 13 anos de idade.
No post, Léo divulgou uma imagem sua em um evento, onde uma mulher coloca as mãos em sua barriga. “Mulheres enfiando a mão no meu pau, apertando minha bunda, passando a mão no meu corpo sem meu consentimento”, declarou o ex-colírio.
Entre no canal do iG Delas no Telegram e fique por dentro de todas as notícias sobre beleza, moda, comportamento, sexo e muito mais!
“Sou importunado sexualmente por mulheres desde minha adolescência e acham isso normal. Até quando?”, questionou.
Nas redes, internautas ironizaram a confissão de Léo. “Mulheres fazem isso e eu não reclamo”, comentou um seguidor. “Quem me dera”, postou outro.
De acordo com a psicóloga Vanessa Gebrim, especialista em Psicologia Clínica pela PUC, o abuso contra homens ainda é visto como brincadeira por muitas pessoas. “Infelizmente a nossa sociedade é muito machista e preconceituosa, no ponto que quando acontece o abuso em um homem, de alguma forma tirasse a masculinidade do mesmo”, explica a profissional.
Os crimes de assédio e importunação sexual são praticados, em sua maioria, contra mulheres. No entanto, existe uma alta porcentagem de homens que já foi vítima desse crime: segundo levantamento do Datafolha, dois em cada dez homens adultos já foram vítimas de agressão sexual no passado.
Em 2019, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos registrou que 18% dos registros de violência sexual contra crianças e adolescentes brasileiros eram de vítimas do sexo masculino.
“Infelizmente, crimes de assédio podem acontecer com qualquer pessoa, não importa idade, orientação sexual ou gênero”, explica o psicólogo Lucas Correia. “O problema, no caso dos homens, é que eles são orientados a não denunciar e ignorar esse problema”.
O psicólogo explica que homens são geralmente encorajados a ignorar ou superar o acontecido, já que devem ser ‘homens de verdade’ e que não podem se curvar a ‘problemas do gênero feminino', e, assim, os estereótipos ao redor da masculinidade ajudam a silenciar essas vítimas.
O silenciamento dos casos e os fortes estereótipos levam a uma subnotificação de casos, como explica Gebrim: “Devido ao próprio preconceito em torno da sociedade sofre e muitas vezes por vergonha, essas pessoas acabam não denunciando”.
Acompanhe também o perfil geral do Portal iG no Telegram !
Sem ajuda ou a possibilidade de denúncia, essas vítimas sofrem para lidar com essa situação. “Os traumas mais comuns [ao redor do assédio], além dos sentimentos de culpa e de vergonha são também transtornos de ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático”.
A psicóloga explica que os rótulos ao redor da masculinidade acabam prejudicando os próprios homens, já que essas ideias “colocam a vítima numa situação onde pela própria sociedade machista, ele não pode procurar ajuda, pois tem que resolver os problemas sozinho”.
Por mais que a sociedade ainda não esteja a par desse debate, a especialista reflete que a psicoterapia está preparada para lidar com essas vítimas. “Esses traumas são superados com uma ajuda, né psicológica no caso fazendo psicoterapia tem algumas abordagens que são muito efetivas no tratamento de traumas”.
A lei está lentamente se adaptando à limitação de gênero: até o ano de 2009, a definição penal de estupro se referencia ao “constrangimento da mulher à conjunção carnal”.
“Temos que ter leis específicas como a lei Maria da Penha e os crimes relacionados à proteção de mulheres, porque há um contexto de violência de gênero”, explica Mayra Martins Cardozo, advogada com perspectiva de gênero.
No entanto, a profissional explica que a maioria das leis não requer que o sujeito passivo seja a mulher, como as leis contra os crimes de assédio, importunação sexual, estupro, lesão corporal e stalking.
“Acredito que precisamos, juntos, lutar contra o machismo e esses rótulos em geral, para que essas vítimas possam, enfim, saber que são válidas”, finaliza Lucas.