O  Setembro Amarelo é o mês em combate e prevenção ao suicídio . De acordo com levantamentos feitos pelo IBOPE, em 2019, o suicídio cresceu no país, principalmente entre os jovens, na faixa etária entre 15 a 24 anos. No Brasil, uma pessoa comete o ato a cada 45 minutos. Por ano, mais de 11 mil pessoas decidem tirar a própria vida no país. 

O CVV (Centro de Valorização a Vida) atendeu mais de 3 milhões de pessoas só em 2019
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O CVV (Centro de Valorização a Vida) atendeu mais de 3 milhões de pessoas só em 2019


Muitas vezes, a pessoa está passando por uma situação tão difícil, que não consegue procurar ajuda e acham que não tem outra solução. Aí que surge o trabalho do CVV (Centro de Valorização a Vida), serviço gratuito que oferece apoio para pessoas nessa situação.


Para quem não conhece, o CVV dá apoio emocional, com 4,2 mil voluntários que atendem todas as pessoas que ligam e precisam de ajuda, de forma gratuita e anônima.  A pessoas podem ligar para o 188, mas eles também atendem pelo e-mail e pelo chat do site, para quem prefere escrever ao invés de falar ao telefone. 

“Queria ajudar as pessoas”

Eliane Soares, 48 anos, trabalha com administração de empresas, mas sua grande paixão é ajudar outras pessoas. Ela é voluntária do CVV há 20 anos. 

“Quando eu terminei de fazer a faculdade e a pós tinha tempo vago, pois havia concluído os estudos e decidi fazer um trabalho voluntário. Não queria bens materiais, queria um trabalho que ajudasse a pessoa a resgatar a autoestima, resgatar a vontade de viver, algo disso em mente. Quando você empodera uma pessoa, ela consegue o que quiser", conta.

Você viu?

Eliane diz que estava procurando algo que pudesse ajudar as pessoas quando conheceu o CVV. "Como o universo conspira a favor, passei pelo local, vi a explicação, me inscrevi, fiz o curso de capacitação e nunca mais saí”, conta em entrevista exclusiva ao Delas. Ela explica que seu principal trabalho é ouvir o que a pessoa tem pra falar do outro lado da linha, pois hoje em dia, ninguém tem tempo para ouvir.

“A pessoa liga quando tem uma dificuldade de respirar, tá nervosa, chorando. Depois de um tempo de conversa (vai de cada um), a pessoa para, respira melhor, fala que se sente mais calma, que consegue por os pensamentos em ordem e vê que o suicídio não é a saída, que não irá se matar. Não tem dinheiro que pague a satisfação de salvar uma vida”, avalia. 

Hoje, o CVV atua em 120 postos pelo Brasil, com voluntários se revezando 24 horas todos os dias. As inscrições para quem quer ser um voluntário são feitas pelo site.  Os voluntários precisam fazer um curso de capacitação e seleção, que dura de 30 a 40 horas.  “No momento os cursos presenciais estão suspensos e hoje tem uma plataforma de ensino à distância. Está sendo tudo virtual. Até o final do ano esperamos voltar”, diz. 

Procura na pandemia 

Só em 2019, o CVV atendeu mais de 3 milhões de pessoas. Durante a pandemia esse número não aumentou muito por conta da estabilidade de voluntários, mas o tema das conversas mudaram. “Percebemos que o tempo que a pessoa ficava numa ligação - tem pessoa que liga para contar como foi o dia, os contratempos, como deixou irritada - era de meia hora, a pessoa se sentia bem e hoje percebemos que o tempo das ligações estão maiores". 

Eliane conta que ultimamente 90% da conversa está relacionada à pandemia da Covid-19. As pessoas falam da solidão, de não estar acostumadas a estar em casa, do medo de perder alguém e de contrair a doença. O medo de perder o emprego também é um tema recorrente segundo a voluntária. 

Eliane conta que ao longo de seus 20 anos como voluntária já escutou várias histórias, relatos que a pessoa nunca contou para ninguém, que nunca teve coragem de contar e que muitas vezes, um diálogo franco e gentil, fazem com que ela mude de ideia sobre o suicídio. Mas nem sempre é assim. 

“No CVV a gente respeita e aceita a opinião e o jeito de ser de quem nos procura, mesmo que depois de uma conversa ela fala que ainda pensa em se matar e vai fazer isso, a gente respeita o momento de dor da pessoa. É difícil? Sim, dá uma sensação de frustração, mas o respeito e a aceitação de que cada um é de um jeito e tem o livre arbítrio é a base das conversas. Respeito, aceitação, não ter falsas promessas, como temos no dia a dia”, encerra Eliane. 

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