Você tem vontade de ter filhos? Independentemente da sua resposta, com certeza já se pegou pensando no que quer. Ou, então, já imaginou como seria carregar uma criança no útero. Nós fazemos isso porque somos mulheres e, sendo assim, temos a capacidade de reproduzir. Ao se dar conta dessa troca de intimidade, de uma mulher se imaginar no ciclo reprodutivo da outra, a fotógrafa brasileira Aline Muller criou seu trabalho “Somos Uma”.

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Mulheres que participaram do projeto
Aline Muller
Mulheres que participaram do projeto "Somos Uma" estavam em diferentes fases do ciclo reprodutivo e menstrual

As fotos, que foram tiradas no Rio de Janeiro, são ao mesmo tempo delicadas e impactantes. Mulheres nuas, com diferentes corpos e em diferentes fases do seu ciclo reprodutivo e menstrual, juntas, lado a lado, para representar a diversidade do corpo feminino .

“Quis retratar o ciclo reprodutivo e as questões que o cercam de forma mais ampla. Também fui movida pelo sentimento do quanto nós, mulheres, independentemente de qual fase deste ciclo estamos, já nos vimos em todas elas e o quanto é importante e fácil ter empatia por outras em função disso”, explica Aline em entrevista ao Delas .

“Eu nunca tive filho, mas já me peguei preocupada em não poder ter, em ter e em não querer ter. Existe uma pressão enorme da sociedade acerca do assunto e de uma decisão individual e exclusiva da mulher. Isso sem falar na questão dos estereótipos de beleza que giram constantemente em torno disso antes, durante e depois da gravidez. E também caso ela não engravide, claro.”

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Aline acredita que as mulheres são muita mais generosas com as outras do que com elas mesmas sobre as
Aline Muller
Aline acredita que as mulheres são muita mais generosas com as outras do que com elas mesmas sobre as "imperfeições"

As fotos retratam pessoas com corpos marcados pelo tempo e pelo ciclo da vida, como Aline afirma. São grávidas, mães e outras que não passaram pela maternidade. Com seu trabalho, a fotógrafa espera passar uma mensagem de aceitação, suporte e sororidade, além da certeza de que somos todas parte de um mesmo macro ciclo, de que não estamos sozinhas.

Foram as próprias mulheres que se dispuseram a participar da sessão fotográfica. Aline criou um grupo no WhatsApp para falar do projeto para algumas amigas, e elas se encarregaram de espalhar a ideia. A profissional queria pessoas de bem com o próprio corpo por conta da exposição. “Coincidentemente – ou não –, meu desejo de ter representantes de diferentes fases do ciclo reprodutivo foi atendido.”

Mulheres e seus corpos

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Aline Muller

Mesmo que a mulher nunca tenha um filho, é muito provável que vá pensar sobre o assunto e tentar se imaginar com uma criança dentro de seu útero

Sendo uma mulher que trabalha com a imagem das pessoas, e pelos ensaios que faz, Aline percebeu as mulheres são muita mais generosas com as outras do que com elas mesmas. “Algumas veem uma foto de outra mulher expondo o corpo do jeito que ele é, com dobras, estrias, celulites, e acha lindo, ela quer se ver daquela forma. Mas, quando ela própria é fotografada daquela maneira, no primeiro momento é sempre um choque.”

Se ver com as tais “imperfeições” pode ser um choque para algumas pessoas. Para evitar isso, a fotógrafa sempre diz para suas modelos começarem a se olhar nas fotos com um certo distanciamento, como se estivessem vendo as fotos de outra mulher, até acharem a beleza da imagem. “Depois disso, normalmente acontece o casamento: ‘essa sou eu e sou linda assim’.”

Você viu?

Aline acredita que as pessoas ainda se cobram muito, focando demais nos defeitos e ainda fazendo comparações com um padrão de beleza inatingível. Felizmente, isso pode mudar. A fotógrafa acredita que as pessoas estão mais inquietas e se questionando sobre o que realmente as fazem felizes.

Apesar de muitas mulheres se reconhecerem nas fotos de Aline Muller, ainda há as pessoas que se chocam com seu trabalho
Aline Muller
Apesar de muitas mulheres se reconhecerem nas fotos de Aline Muller, ainda há as pessoas que se chocam com seu trabalho

Se esse é o começo de uma nova perspectiva sobre os nossos corpos, Aline não sabe, mas se for, ela afirma que é um começo bom. A fotógrafa acredita que as mulheres precisam conhecer mais o próprio corpo, e de preferência cedo, desde criança.

“Quando você cresce negando o próprio corpo tudo fica mais difícil depois. Em compensação, quando você vai aprendendo a se olhar, a ser generosa consigo, a responder ‘sim’ e ‘não’ através do que o seu corpo pede, a vida pode se tornar muito mais fácil, bonita e sobretudo prazerosa. Mas, isso é um longo e constante caminho.”

O caminho ainda é longo porque, apesar de no geral o público conseguir se reconhecer nas imagens e até se emocionar, há ainda aquelas pessoas que se chocam com as fotos, vulgarizam e até se ofendem com os corpos nus. Mesmo assim, a profissional encara com naturalidade o desafio.

“Acho que é natural e parte do árduo trabalho de vários artistas que  precisam continuar expandindo o olhar das pessoas, dessexualizando a nudez feminina e naturalizando a relação com sentir prazer.”

Projeto

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“Somos Uma” é o segundo capítulo do Projeto Ciclo, também da fotógrafa Aline Muller. No primeiro, a inspiração da brasileira que trabalha em Nova York foi o período menstrual e as mudanças causadas nosso corpo e no emocional.

“Eu comecei a prestar atenção a estas mudanças percebendo, o quanto fui ensinada a negligenciar os sinais do meu corpo e a encarar a menstruação como algo ruim, sujo e do qual eu deveria me envergonhar. Ao conversar com outras pessoas, entendi que eu não era a única.”

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Como uma forma de retratar o ciclo menstrual das mulheres como algo natural, que prepara o corpo da mulher para gerar uma vida, Aline fez fotos de uma mulher mostrando explicitamente seu sangue e seu corpo. “Nesta série também utilizei um vermelho forte na edição, além do sangue real, pra chamar atenção para o fato de que dificilmente vemos a cor vermelha associada ao assunto, por exemplo, em campanhas de absorventes.”

Seja com a menstruação ou com as diversas fases do ciclo reprodutivo, o objetivo de Aline é fazer com que as mulheres percebam os sinais de seus corpos e se reconheçam cada vez mais neles. 

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