Ao contrário do que muitos pensam, ser dominador não é se ver como superior ao submisso. Para esclarecer a prática, Heitor Werneck, colunista do iG Delas, conversa com Hot Mahara, a dominadora que atende até online

A Domme Hot Mahara tem um site especializado no fetiche da dominação. Seu fascínio une homens e mulheres que a procuram em busca de um prazer muito especial: experimentar sua força, sua voz de comando.

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Hot Mahara usa o fetiche da dominação como sua profissão
Arquivo pessoal
Hot Mahara usa o fetiche da dominação como sua profissão

Para mim, ela é uma raridade: apesar de muito jovem, tem total ética e consciência de sua responsabilidade como Pro Dome. Seus clientes são atendidos de forma segura, consensual, higiênica e saudável. Nesse fetiche , ela domina, eles obedecem e todo mundo sai ganhando.

Linda e elegante, cuida do corpo e do visual. Adoro quando está presente em minhas festas. É fetichista de verdade, não apenas alguém que faz pose…Sorte do escravo que ela escolhe para ter em sua companhia. A seguir, divido com vocês um delicioso bate-papo com essa mulher incrível.

Heitor Werneck: O que é ser dominadora num país machista?

Hot Mahara : Vejo que as pessoas ainda acham um absurdo um homem servir uma mulher. O machismo não afeta somente as mulheres, mas afeta aos homens também. Muitos acham que a inversão, a feminização, tem a ver com homossexualidade (primeiro que ser homossexual não é nenhum absurdo, nada feio, e nem errado), e assim vêm os ataques dos machistas, que distorcem o prazer e colocam tudo de uma maneira absurda, errada, pejorativa.

Vários submissos não podem dizer em uma roda aberta de amigos que gostam de sofrer um spanking, que gostam de obedecer, que prestam adoração aos pés de uma mulher. Lá vem aquele papo chato que cada um tem seu lugar, que o homem comanda e a mulher obedece (isso tanto faz se for no dia a dia, ou no meio fetichista). Nunca sofri pessoalmente nenhum tipo de preconceito em relação à minha profissão. Mas já li comentários com os quais nem perco meu tempo, que logo apago, pois não vão acrescentar nada. Comentários do tipo: “esse cara ( submisso ) é um idiota!”, “o que você está fazendo?

Com meu pau eu te destruo”, “vai lavar uma louça!”, e, sinceramente, não me deixaram brava. Apenas me fizeram rir. São pessoas com a mente pequena, com desejos reprimidos pelo próprio julgamento. É muito mais fácil criticar do que assumir. Já o que se assumirem serão criticados por outros... O preconceito machista não está focado apenas na Dominatrix.

Mas na mulher que escolheu ser submissa também. Afinal, já li milhões de vezes que uma submissa não pode ser feminista (pera lá, ela é sub por uma escolha DELA), então ela pode sim. Ser Dominatrix num país machista é ter muito saco pra ler besteira (e, de repente, para escutar também), é ser firme pra seguir adiante e quebrar tabus. Ser Dominatrix, principalmente no meu caso, que sou profissional, é colocar que não estou ali para realizar o fetiche do outro, e sim, mesmo sendo paga, colocar a condição REAL do D/s , onde o submisso não tem nenhuma autoridade na relação.

Mesmo sendo um serviço pago, esse sistema não se aplica a uma Dominatrix. EU sou a pessoa que deve ser servida. E não o contrário. Mas os machistas não concordam, pois acreditam que pagar é uma licença para usar, e não ser usado.

Heitor Werneck: Como ter um empoderamento feminino em um país como o Brasil?

Hot Mahara : TODOS crescemos com paradigmas. Por aqui, crescemos escutando que mulher tem que obedecer, que mulher tem que procriar, que mulher deve apenas cuidar da casa, do marido e dos filhos, que mulher não pode sair com roupa curta, não pode contestar um homem, não pode sentar num barzinho pra beber etc.

O movimento feminista veio para nós nos apoiarmos umas às outras, e, assim, termos força para seguir adiante e contestar os caminhos que querem nos obrigar a seguir. Esse é o empoderamento. Não estamos num tempo difícil como antigamente para nos empoderar. Graças a muitos meios, como a internet, ganhamos força numa dimensão maravilhosa e podemos viver sem sermos obrigadas a NADA. Infelizmente, de forma subliminar e/ou escancarada, sugere-se em várias mídias que a nossa é uma causa perdida, ou até mesmo fútil.

E não existem apenas homens machistas. Existem mulheres também. Não sei quando esse tabu será quebrado, mas já demos passos em dimensões grandiosas para a liberdade do ser humano. E não do gênero.

Heitor Werneck: O que é uma dominação virtual?

Hot Mahara : Coloco no meu site a possibilidade de submissxs me servirem virtualmente. Muitos não podem pagar por uma sessão presencial, ou são de algum estado para o qual não compensa financeiramente viajar. Então é um tempo em que nos relacionamos por vídeo, ou até mesmo com fotos, áudios e textos no WhatsApp. É divertido da mesma forma, pois eu passo ordens, o submisso me obedece, e me serve da maneira que eu quero (claro que tudo dentro do "SSC", seguro, sadio e consensual).

Para a moça, o fetiche da dominação não significa se achar superior ou melhor que a pessoa que está sendo dominada
Arquivo pessoal
Para a moça, o fetiche da dominação não significa se achar superior ou melhor que a pessoa que está sendo dominada

Práticas fetichistas são quase infinitas, então é gostoso, divertido e produtivo da mesma forma. Requer apenas criatividade sem limites, e a confiança como base (já que é muito mais inseguro se expor em câmeras hoje em dia).

Heitor Werneck: O que é a dominação real?

Hot Mahara : A/O dominante da relação tem o papel de cuidar, guiar, punir e transcender. Isso se aplica inclusive em minha profissão. Como eu disse, mesmo sendo paga, o submisso estará ciente de que é uma REAL relação D/S, na qual ele não tem autoridade nenhuma, mas tudo é feito de forma sã, segura e consensual. A dominação real não consiste em me achar melhor que o submisso, muito menos em fazer apenas práticas.

Mas, literalmente, em guiá-lo para ser melhor como escravo e como pessoa. Por outro lado, o submisso tem o papel de se entregar e estar disposto a superar limites, agradar sua/seu dono(a) de forma absoluta, colocando-o como prioridade.

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Heitor Werneck: E o que você prefere, o real ou o virtual?

Hot Mahara : Dominação REAL acontece presencialmente e virtualmente. Mas se a pergunta é sobre minha preferência em ter uma sessão presencial ou virtual, não saberei responder. Sou uma pessoa livre, que desfruta de cada momento como se fosse o único, então me divirto igualmente, mas presencialmente o desenvolvimento do meu submisso é mais rápido.

Heitor Werneck: O que, na sua opinião, impede um homem ou uma mulher de viver seu fetiche de submissão?

Hot Mahara : O julgamento alheio faz com que as pessoas auto julguem também. E a ideia (bem errada) de que um dominador é melhor do que um submisso também atrapalha. Já dominei vários dominadores que AMAM ser submissos, mas jamais se assumiriam como subs. Até na hora em que esclareci essa ideia para eles, ajudei-os a desenvolver aos poucos e muitos se assumiram switchers, ou submissos. Um dominador não é melhor que um submisso, escolhemos lados diferentes do chicote.

Heitor Werneck: Quando você descobriu sua veia dominadora?

Hot Mahara : Sempre fiz algumas práticas sem saber que elas tinham nome ou sequer existiam. A personalidade dominante sempre esteve em evidência. É algo natural. Lembro que, quando pequena eu queria ser dominadora, e adorava quando a Tiazinha dava chicotadas, ou depilava os caras com cera… Mas somente aos 18 anos fui ser mentorada, e acredito que tenho muita sorte em ter a base que eu tive. Sou orgulhosa e muito grata ao meu mentor.

Quando pequena, todas as meninas queriam a roupa da Feiticeira e não me lembro de nenhuma amiguinha querer a roupa da Tiazinha. Nem vendia a roupa da Tiazinha para a minha idade. Então juntei um conjuntinho do Mickey que eu tinha, botinhas da Carla Perez, e fiz minha mãe comprar chicote e máscara. Nossa, como eu me divertia…

Heitor Werneck: Qual a dica que você dá para uma submissa se entregar a um dominador?

Hot Mahara : Confiança. Não se entregue a alguém só porque isso lhe foi imposto. Entregue- se a alguém em quem você confie e admire. Entregue-se a alguém que você tenha gosto de servir e ver satisfeito.

HW: Que critérios você tem para escolher um escravo?

Hot Mahara : Na verdade, eu uso critérios para NÃO escolher um submisso. O ser humano é infinito. Fica difícil eu criar uma imagem de alguém para me servir. O que me faz não escolher um submisso é a falta de educação, a imposição de limites para me moldar ao que ele quer, a dúvida ou falta de confiança, e quando ele fica preso a apenas uma imagem dominante, pois acredito que dominar não é possuir rótulos ou fazer o que esperam de mim. Ser dominante é fazer o que eu quero, quando eu quero, da forma que eu quero e não da forma que esperam que eu faça ou seja.

Heitor Werneck: Dentro do universo fetichista, com qual tara você mais se identifica?

Hot Mahara : Gosto muito da podolatria. Tenho prazer em ter os pés adorados, e em ver pés bonitos desfilando por aí também. Mas também me identifico muito com vestimentas fetichistas; couro, látex, vinil, máscaras, lingeries poderosas, salto alto, meias 7/8, botas… Amo todas as práticas que faço, mas essas são as que mais me atraem. Quer saber mais sobre o universo do fetiche? Acompanhe a coluna do Heitor Werneck  no iG Delas.



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