Em um passado não tão distante, o fato de uma mulher ser ou não virgem era considerado um medidor do quão pura ela era, e, portanto, do quanto valia a pena para um homem casar-se com ela, tornando-se seu “primeiro dono”. Na noite de núpcias, era esperado que elas sangrassem – como um sinal de que, até então, tinham um hímen – e, se isso não acontecesse, as pessoas achavam que aquela não havia sido a primeira relação dela (uma desonra aos olhos da sociedade).

Apesar de muita gente achar que a virgindade feminina está ligada apenas ao hímen, essa ideia não faz muito sentido
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Apesar de muita gente achar que a virgindade feminina está ligada apenas ao hímen, essa ideia não faz muito sentido

Essa época pode até ter passado, mas o costume de relacionar a presença de dor e sangue durante a primeira relação sexual com a virgindade da mulher persiste. De certa forma, isso torna a virgindade feminina mais “preciosa” que a masculina aos olhos de muita gente , criando uma pressão para que a mulher não a “ceda” para “qualquer um”. No entanto, nem o hímen , nem o sangramento, nem a dor são indicativos de virgindade – e muito menos de caráter.

Afinal, o que é o hímen?

Por vergonha de perguntar ou falta de informações e discussões sobre o assunto, muitas meninas crescem acreditando que o hímen é um “tampão” no canal vaginal, mas, na realidade, ele não é assim (ou ao menos não na maioria dos casos). De acordo com Bárbara Murayama, ginecologista e coordenadora da Clínica da Mulher no Hospital Nove de Julho, a forma dos hímens não é algo universal.

A médica explica que os hímens são dobras na mucosa do canal vaginal que formam uma fina membrana circular. Antes mesmo de as mulheres nascerem, a parte central dessa membrana se rompe e o que sobra é apenas um anel que “estreita” o canal vaginal. Em alguns casos, porém, essa parte não se degenera por completo ou simplesmente segue intacta, dando origem a tipos diferentes de hímens.

Segundo Bárbara, quando a membrana não se rompe completamente, é possível que a mulher tenha um hímen microperfurado – que tem uma abertura menor que o normal no centro do “anel” –, septado – que possui uma pele atravessada no meio do buraquinho, como se fosse uma placa de “pare” – ou cribiforme – que, em vez de ter um furo mais amplo, tem diversos furinhos.

De acordo com ginecologista, e ao contrário do que muita gente cresce imaginando, não há apenas um tipo de hímen
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De acordo com ginecologista, e ao contrário do que muita gente cresce imaginando, não há apenas um tipo de hímen

Bárbara explica que, normalmente, esses tipos de hímens não geram sintomas ou grandes dificuldades na vida da mulher, mas que isso pode acontecer. No caso do septado e do cribiforme, é possível que elas sintam um desconforto maior que o normal durante a primeira relação sexual ou até para inserir absorventes internos.

"Além disso, mulheres com hímens microperfurados podem apresentar sangramento pós-menstrual ou secreção fétida devido à obstrução parcial e má drenagem. Se os produtos menstruais não forem totalmente evacuados da vagina, o sangue retido pode ser infectado e levar a infecções pélvicas, por exemplo”, acrescenta. Já no caso do imperfurado, as coisas são um pouco diferentes.

Para pessoas com esse tipo que não tem abertura alguma, os problemas tentem a começar antes de a mulher ter a primeira relação. “A criança geralmente permanecerá assintomática até a menarca, primeira menstruação. Nessa época, a adolescente pode apresentar um histórico de dor clínica abdominal ou pélvica”, explica a ginecologista. Esse quadro é causado pelo acúmulo de sangue menstrual que não consegue descer e, em casos assim, a pessoa deve procurar um médico.

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Hímen, sangue e a virgindade

Certo, então, normalmente, todas as mulheres têm um desses formatos de hímens e, quando transam pela primeira vez, a penetração faz com que eles se rompam, certo? Não necessariamente. É dessa forma que acontece para muitas mulheres, mas algumas delas fogem à regra.

Além de todos esses tipos de hímens, há um que não difere dos outros pelo formato, e sim pela composição. Segundo a ginecologista, os hímens complacentes têm uma composição mais elástica, algo que torna o rompimento mais difícil. Em vez de a penetração fazer a membrana “rasgar”, ela pode apenas se esticar, fazendo com que uma mulher possa, sim, ter o hímen intacto mesmo após várias relações sexuais.

A presença ou ausência de sangue durante a primeira vez da mulher no sexo também não quer dizer muita coisa. Não é raro encontrar meninas que não percebem um sangramento quando têm a primeira relação sexual e acham que, já que ele não aconteceu, elas ainda são virgens.

Por ser um tecido vascularizado como qualquer outro, os hímens, quando se rompem, podem realmente fazer com que haja um pequeno sangramento. Dependendo do tipo de membrana, esse sangramento será menos ou mais intenso, mas, em casos de hímen complacente, ele simplesmente não ocorre, já que a membrana se estica em vez de se romper.

Primeira vez sem “nóias”

Segundo terapeuta sexual, resumir a perda da virgindade ao rompimento do hímen pode gerar medo e angústia
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Segundo terapeuta sexual, resumir a perda da virgindade ao rompimento do hímen pode gerar medo e angústia

Além de ser um equívoco pensar que a presença ou ausência de sangue e dor, e o rompimento ou não do hímen dizem alguma coisa sobre quantas vezes a mulher já transou, a relação que historicamente se faz entre esses fatores pode bagunçar um bocado a cabeça das mulheres, gerando angústias.

“Há mulheres que sofrem se vão para a primeira experiência sexual e não sangram, pois ficam com medo do parceiro não acreditar em sua ‘pureza’, que está atrelada ao hímen, ao sangramento e até à dor. Algumas evitam a relação sexual até mesmo por medo de sentir tudo isso, acreditando que seja uma regra sentir dor. Outras, para manter sua ‘ virgindade ’ atrelada ao ter ou não ter um hímen, se sujeitam a fazer relação anal, muitas vezes sem gostar, apenas para se manter ‘virgens’”, explica Thais Plaza, terapeuta sexual e colunista do grupo Afrodites .

Para evitar essa angústia, tanto Thais quanto Bárbara explicam que é preciso pensar na virgindade de outra forma (que, de preferência, não envolva uma membrana  minúscula no canal vaginal). “A virgindade de uma pessoa não deve ser medida pela perda ou não de uma película, e sim através do envolvimento e das sensações que ela viveu física e emocionalmente com uma pessoa por meio dos contatos sexuais, sejam eles quais forem”, opina a terapeuta.

Segundo as especialistas, em vez de disseminar essa ideia física ligada à dor, é mais importante orientar mulheres a conhecerem seus corpos e tirarem todas as dúvidas com um ginecologista para que estejam preparadas para curtir o momento de forma saudável e segura, e não para “pirar” de nervoso com ele.

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Então, recapitulando:

  • Conheça seu corpo e tire todas as dúvidas com um especialista em vez de acreditar no senso comum;
  • Hímens não têm sempre o mesmo formato;
  • Essa membrana pode não se romper durante o sexo;
  • Hímen e sangramentos não ditam a virgindade de ninguém.

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