Mulher não pode falar sobre sexo . Mulher não sai sem o marido. Mulher não consegue ser amiga de outras mulheres. Bom, felizmente o ano é 2017 e as mulheres estão fazendo de tudo para que essas e outras afirmações não sejam mais parte do senso comum. Por dificuldades de encontrar em profissionais, familiares e amigos o aconchego para tratar de temas delicados como sexualidade, abusos e problemas no relacionamento ou até um encontro que deu muito errado, muitas mulheres acabam tropeçando em grupos exclusivos para pessoas do sexo feminino  e veem a vida se transformar. 

Grupos como o Afrodites - que realiza um evento bimestral exclusivo para as integrantes - têm ajudado muitas mulheres a superar problemas como depressão, divórcio e estimulam discussões de todo o tipo em tom leve e descontraído
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Grupos como o Afrodites - que realiza um evento bimestral exclusivo para as integrantes - têm ajudado muitas mulheres a superar problemas como depressão, divórcio e estimulam discussões de todo o tipo em tom leve e descontraído

É o caso, por exemplo, do grupo Afrodites, que concentra mais de 21,3 mil integrantes no Facebook. Tudo começou em fevereiro de 2016 por iniciativa de Luciana Vilela, empresária e consultora de relacionamentos, com o objetivo de criar um ambiente seguro e amigável para que mulheres compartilhem experiências, medos e problemas. Em abril do mesmo ano, porém, as integrantes decidiram que queriam se conhecer e marcaram o primeiro encontro do Afrodites, tornando o evento uma tradição que só cresce.

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Luciana Vilela, criadora do grupo, organiza os eventos desde o primeiro, que levou 40 pessoas. Hoje, eles concentram mais de 150 mulheres

Segundo Luciana, o primeiro desses eventos teve a presença de apenas 40 integrantes. Com o passar do tempo, porém, os eventos começaram a crescer e o último, realizado no The Blue Pub (bar em São Paulo) no último dia 27, contou com cerca de 170 mulheres.

“O objetivo era me aproximar das integrantes que me seguiam nas redes sociais, tornar real o que era virtual, estreitar laços e abrir um outro espaço além da internet onde elas pudessem desabafar e conhecer outras mulheres com os mesmos dilemas”, afirma a empresária que, hoje, faz de tudo para tornar esses encontros experiências inesquecíveis com atrações educativas e até inusitadas.

Luciana conta que esse encontro acontece bimestralmente e é classificado com uma festa temática (o próximo, por exemplo, vai acontecer no dia 29 de outubro com o tema halloween). Durante as seis horas, as mulheres que participam do evento assistem a palestras com especialistas, entrevistas com pessoas que abordam o universo feminino ou geram alguma curiosidade – como casais que frequentam casas de “swing”, pessoas adeptas de fetiches como os mostrados em “Cinquenta Tons de Cinza”, etc –, têm acesso a um bazar de produtos eróticos e lingeries e participam de brincadeiras, aulas de dança, de pole dance, “lap dance” e dinâmicas que buscam unir as integrantes do grupo.

No encontro, as mulheres têm a chance de participar de palestras com especialistas, bazares de produtos eróticos, dinâmicas animadas e podem até fazer aulas de pole dance, tudo no maior clima de festa, com música e dançarinos
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No encontro, as mulheres têm a chance de participar de palestras com especialistas, bazares de produtos eróticos, dinâmicas animadas e podem até fazer aulas de pole dance, tudo no maior clima de festa, com música e dançarinos

A festa, porém, não é o único encontro do qual essas mulheres podem participar. De quinze em quinze dias, ocorre o chamado “Chá das Deusas”, em que no máximo 20 meninas dentre as milhares de mulheres – cujos perfis são autorizados por Luciana antes de serem colocados no grupo por ela mesma – se encontram para conversar, desabafar, debater questões relativas ao universo feminino e receber um convidado especial.

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Empoderamento, informação e amparo

Buscando criar um ambiente seguro para as integrantes, Luciana convidou e incentivou mulheres especialistas em diversas áreas para atuarem como colunistas e conselheiras do Afrodites. No grupo, é possível encontrar advogadas, psicólogas e até sexólogas, e nos encontros não poderia ser diferente. Segundo Luciana, apesar de os eventos contarem com um clima de festa, aulas de dança e até com dançarinos, as dinâmicas realizadas entre as mulheres (que, entre elas, se apelidam de “deusas”) e as palestras entretêm e chamam bastante a atenção delas.

O clima descontraído atrai as mulheres e faz com que elas se sintam acolhidas, empoderadas e
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O clima descontraído atrai as mulheres e faz com que elas se sintam acolhidas, empoderadas e "entre amigas"

Pode parecer bobo, mas o ambiente festivo e o clima de acolhimento promovido por eventos e grupos como o Afrodites podem, sim, interferir positivamente na vida de mulheres, como explica Thais Plaza, terapeuta sexual e dona da rede Doce Sensualidade. “Pode parecer mentira, mas em pleno século 21, assuntos como sexo e prazer no universo feminino são um tabu e, por conta disso, muitas mulheres ainda não conseguem lidar com a própria sexualidade. Em eventos como esse, elas assistem palestras de clima descontraído e a informação surge de forma leve. Elas aprendem sobre diversos assuntos como orgasmo, ponto g, masturbação, dicas de sedução, entre outros”, conta a terapeuta.

Segundo a terapeuta sexual Thais Plaza, eventos como esse ajudam as mulheres a lidar melhor com a própria sexualidade
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Segundo a terapeuta sexual Thais Plaza, eventos como esse ajudam as mulheres a lidar melhor com a própria sexualidade

De acordo com a promotora de vendas Jaqueline do Nascimento, que participou de seu terceiro encontro feminino na semana passada, esse tipo de interação festiva entre as integrantes do grupo realmente traz benefícios para a vida pessoal. “Cada evento é diferente, então sempre tenho vontade de ir pelas amizades que conquistei, pelas palestras que são abordadas de forma leve... Dá vontade de sair de lá colocando tudo em prática”, conta Jaqueline.

A promotora ressalta ainda que o grupo a ajuda todos os dias com questões emocionais e a dificuldade que ela tem de tocar o próprio corpo. “Me ajudou a superar uma depressão e a dificuldade de me expressar, melhorou muito minha autoestima e me faz sentir cada dia mais viva. Hoje, acordo me achando poderosa”, conta Jaqueline.

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Por incrível que pareça, mesmo com dançarinos sensuais e produtos de sex shops sendo vendidos no encontro, as mulheres parecem realmente se interessar no companheirismo que eventos assim proporcionam e nos especialistas convidados para palestrar. “No final da apresentação, as meninas agradecem, elogiam a palestra e pedem meu contato. É difícil fazerem perguntas durante o evento porque elas ainda possuem certa vergonha de expor dúvidas sobre sexualidade , porém no dia seguinte me enviam mensagens de WhatsApp querendo aprofundar algum assunto ou sugerir temas para as próximas edições”, conta Thais.

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