Assim como o pré-natal é fundamental para a jornada das grávidas, a fisioterapia pélvica tem sua função nesse processo e proporciona ganhos do início ao fim. Isso porque com as mudanças corporais que surgem durante esta fase, são fundamentais o cuidado e o acolhimento médico especializado próximos a essa mulher, evitando assim preocupações exacerbadas, aflição, medo e insegurança com o futuro.
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As principais queixas trazidas por algumas gestantes, geralmente são dores musculoesqueléticas (na região lombar, pélvicas, ou outras regiões), formigamento e dormência nos braços e mãos, inchaço nas pernas e pés, além de perda urinária (aos esforços como tossir, espirrar epor urgência ).
Existem, porém, gestantes que podem apresentar ainda disfunção sexual (diminuição de libido e de lubrificação), fadiga, cansaço para respirar após atividades rotineiras, desconforto para dormir, entre outros sintomas.
Para desmistificar mitos e sinalizar os principais ganhos da fisioterapia pélvica para mulheres em geral, especialmente, nas gestantes, Angela Baroni, supervisora da equipe de fisioterapia da healthtech Theia, clínica moderna centrada na gestante, focada em preconcepção, pré-natal, parto e pós-parto, explicou as principais dúvidas.
Quais são os principais benefícios da fisioterapia do assoalho pélvico para as mulheres?
Muitas mulheres, sejam elas gestantes ou não, podem sofrer com disfunções do assoalho pélvico, impactando na qualidade de vida. Estas disfunções incluem: incontinência urinária (esforço, urgência e mista), bexiga hiperativa, incontinência fecal, prolapso de órgãos pélvicos, disfunção sexual, diástase abdominal, dor pélvica crônica. O fisioterapeuta, além de sua função como profissional de saúde para rastrear e identificar estas disfunções, utiliza intervenções de baixo risco, minimamente invasivas e sem efeitos colaterais para tratamento de primeira linha aos distúrbios do assoalho pélvico.
A fisioterapia também promove a percepção e entendimento do próprio corpo da mulher. Assim, o objetivo é minimizar queixas durante e após a gestação e perdas com o avançar da idade (principalmente na menopausa), mantendo a funcionalidade e qualidade de vida.
Como benefícios podemos citar:
- Fortalecer o assoalho pélvico promove melhor sustentação das estruturas pélvicas (bexiga, intestino, útero e anexos)
- Promover melhor controle dos hábitos urinários e fecais
- Diminuir tensão muscular e consequentemente dores pélvicas, dores durante as relações sexuais, diminuí sintomas de esvaziamento incompleto da bexiga que pode levar a infecção do trato urinário por repetição.
Quais são os exercícios mais comuns da fisioterapia pélvica?
Os exercícios são individualizados e dependem de uma avaliação da profissional especialista na área. De uma forma geral podemos aplicar exercícios que melhorem a percepção da musculatura do assoalho pélvico, fortalecimento e alongamento, coordenação focando na capacidade de contração e relaxamento dos músculos e recrutamento de musculatura adjacente (glúteos, adutores, abdômen).
É essencial procurar a ajuda de um profissional para fazer os exercícios, ou é possível fazer alguns exercícios em casa?
A orientação e supervisão de um fisioterapeuta nos primeiros momentos é essencial para um bom desempenho no tratamento, mas podemos orientar a continuidade de alguns exercícios simples para casa ou que já foram realizados em terapia. Para mulheres no geral, que não apresentam queixas e/ou não fazem nenhum tratamento do tipo, os exercícios de contração simples podem ser benéficos quando há algum material de apoio como vídeos e cartilhas, visando a prevenção de queixas futuras decorrentes do processo de envelhecimento.
Existe diferença entre massagem pélvica e fisioterapia pélvica?
Com certeza. A massagem pélvica é apenas uma conduta que pode estar incluída dentre as diversas possibilidades na área da fisioterapia pélvica, e tem sua importância na diminuição de tensão do assoalho pélvico. Já a fisioterapia pélvica é uma especialidade da fisioterapia na saúde da mulher/homem e tem como objetivo reabilitar disfunções do assoalho pélvico através de uma avaliação assertiva, elaboração de um plano terapêutico individualizado e dispondo de condutas diversas, como a massagem pélvica.
Quais são os principais erros das mulheres quando fazem os exercícios em casa? Quais cuidados elas devem ter?
Mulheres que não tenham uma boa percepção corporal, e que não foram orientadas adequadamente, posturas incorretas, ambientes desfavoráveis, frequência e intensidade dos exercícios também inadequados. Um grande erro é achar que sentir dor durante os exercícios é normal. Erros comuns acontecem nos casos de uma orientação indevida ou não supervisão de profissional capacitado.
Quem pode fazer fisioterapia pélvica?
Quando falamos de fisioterapia pélvica, tanto mulheres quanto homens podem se beneficiar. No caso das mulheres, as que apresentam disfunções ou alterações relacionadas diretamente ou indiretamente com o assoalho pélvico, gestantes, puérperas, pré e pós-operatório de cirurgias pélvicas têm indicação de realizar fisioterapia pélvica.
A fisioterapia pélvica é recomendada na gestação?
A fisioterapia pélvica cuida das disfunções do assoalho pélvico. Porém a gestação é muito mais do que isso, e ampliamos nosso olhar para fisioterapia obstétrica. O desenvolvimento do bebê e crescimento da barriga, depende de várias adaptações do corpo da mulher (ação de vários hormônios, ganho de peso, mudança na postura, sobrecarga em músculos, articulações etc).
Porém, esperamos que até a 40 semanas, a gestante não apresente nenhum desconforto, dor ou outra queixa, porém, devido mudanças inerentes deste período, é muito comum apresentarem alguns sinais ou sintomas como: dores musculoesqueléticas (dores lombares, pélvicas, ou outras regiões); formigamento e dormência nos braços e mãos; inchaço nas pernas e pés, perda urinária (aos esforços como tossir, espirrar; por urgência como estar apertada para ir ao banheiro e perder urina no caminho); disfunção sexual (dispareunia = dor na relação, diminuição de libido e lubrificação); fadiga, cansaço para respirar após atividades rotineiras, desconforto para dormir, entre outros.
Outro benefício da fisioterapia é preparar o corpo para o trabalho de parto e parto, proporcionando entendimento e protagonismo da gestante desde os primeiros sinais e um trabalho de parto mais rápido e fácil até o nascimento do bebê. Para isso, a fisioterapia utiliza várias técnicas específicas favorecendo o conhecimento, compreensão e como lidar com seu corpo e tais mudanças, como por exemplo com ajuda de exercícios para mobilidade pélvica que auxiliam na descida do bebê; técnicas de relaxamento para alívio da dor durante as contrações; o que são os músculos do assoalho pélvico e influência deles na gestação e parto, e assim por diante.
Quais as vantagens no puerpério?
A fisioterapia visa a prevenção ou tratamento de queixas de incontinência urinária, fecal, entre outras demandas. Então, toda gestante deveria fazer fisioterapia pélvica durante todo ciclo gravídico puerperal (pré-natal, trabalho de parto, parto e puerpério). É recomendado realizar a avaliação fisioterapêutica e abordagem sobre a função muscular do assoalho pélvico das puérperas já nas primeiras 72h após o parto, e ainda na maternidade. Neste momento, algumas orientações são pertinentes de acordo com a demanda da paciente e o tipo de parto realizado.
Quais são os benefícios da fisioterapia pélvica para outras partes do corpo?
O assoalho pélvico, além de suas funções como sustentação dos órgãos pélvicos (bexiga, intestino, útero), continência urinária e fecal, função sexual e atuação no parto, está intimamente conectado à outras estruturas do nosso corpo, como o abdômen (diafragma, músculos abdominais), pelve, membros inferiores e coluna. O assoalho pélvico junto com o diafragma, músculos abdominais e da coluna vertebral ajudam a estabilizar o corpo e promover equilíbrio durante as funções no dia a dia dos indivíduos.
Portanto, uma adequada contração do assoalho pélvico contribui na resolução de queixas álgicas na lombar, pelve, púbis e pernas. Além disso, ajuda na diminuição da recorrência de infecção urinária e melhora as constipações.
Como a fisioterapia pélvica auxilia mulheres nas necessidades básicas de higiene no dia a dia?
Diminuir ou cessar a perda involuntária de urina e/ou fezes ajuda as mulheres a não usarem mais os protetores diários/ absorventes que propiciam a transpiração causando problemas secundários como candidíase e infecção do trato urinário. A fisioterapia também auxilia na posição adequada para aquelas com queixas de constipação.
A fisioterapia pélvica traz benefícios para vida sexual das mulheres?
Sim. A vida sexual pode estar afetada por diversas questões, porém aquelas relacionadas a distúrbios do assoalho pélvico como: dispareunia (dor na relação sexual), vaginismo (estreitamento do canal vaginal), sensação de vagina alargada, perda de urina/ fezes/ flatos durante a relação e diminuição da lubrificação, serão beneficiadas com a fisioterapia pélvica. Outras questões também podem ser trabalhadas indiretamente, já que o autoconhecimento sobre o corpo e o diálogo aberto acerca da vida sexual podem cursar para um entendimento mais abrangente da mulher sobre questões sexuais.
Esse tipo de fisioterapia, para gestantes ou não gestantes, é pouco divulgado?
Sim, é pouco divulgado. Apesar de ser uma especialidade reconhecida pelo Conselho Federal, e existir vários cursos de formação e capacitação, além de evidências científicas comprovando a eficácia e importância da atuação da fisioterapia pélvica, ainda é uma área pouco conhecida pelos próprios fisioterapeutas e por outros profissionais da área da saúde.
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De acordo com estudos, no Brasil, as políticas de saúde focadas na saúde da mulher não incluem orientações específicas durante o pré-natal e puerpério quanto aos cuidados com o assoalho pélvico. No entanto, esta pode ser considerada como uma das maiores dificuldades das mulheres na preparação para o parto. A prevenção e os cuidados na gestação são fundamentais para a gestante ter um parto saudável.