Com o início do mês de março, diversas iniciativas de conscientização ganham destaque, trazendo à tona a importância do conhecimento e prevenção de três importantes doenças. O "Calendário Colorido" deste mês nos leva a refletir e agir sobre o Câncer de Intestino ou Colorretal, representado pelo "Março Azul Marinho", o Câncer do Colo do Útero, simbolizado pelo "Março Lilás", e a Endometriose, cuja conscientização é promovida pela campanha "Março Amarelo".
O Março Lilás destaca a importância da prevenção do Câncer do Colo do Útero, uma das principais causas de morte entre mulheres em muitas partes do mundo. Através do "Março Lilás", busca-se sensibilizar a população feminina sobre a realização periódica do exame de Papanicolau, fundamental para a detecção precoce e tratamento eficaz dessa doença.
Alexandre Pupo, ginecologista e obstetra, médico associado à FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), explica que o câncer de colo de útero ainda é o câncer feminino que mais mata em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento.
"No Brasil, ele é o segundo câncer da mulher depois do câncer de mama. Em alguns estados do norte e do nordeste, com menor acesso à saúde, o câncer de colo de útero é a primeira causa de câncer e de morte em mulheres. O câncer de colo de útero é um câncer tratável e, principalmente, é um câncer que pode ser prevenido. E a gente usa, inclusive, o índice de incidência de câncer de colo de útero para definir o grau de desenvolvimento de uma sociedade. Esse é, talvez, o principal cenário em relação ao câncer de colo de útero. É uma doença prevenível, desde que você tenha acesso à saúde e educação em saúde para permitir que essas mulheres sejam tratadas e sejam também avaliadas ainda quando não têm o câncer propriamente dito", alerta o médico.
Segundo Pupo, um ponto hoje muito importante é que é possível prevenir a infecção pelo HPV hoje através da vacinação. "Existe já no mundo e aqui no Brasil uma vacina que combate o HPV. A criança, a jovem, toma essa vacina e essa vacina, então, vai protegê-la não da infecção pelo HPV, mas da progressão dessa infecção para as suas formas invasoras para o câncer de colo de útero", ressalta.
"Temos dados do sistema de saúde da Escócia, bastante recentes agora, publicados em fevereiro, mostrando que as meninas lá que foram vacinadas para HPV, até o presente momento, nenhum caso de câncer de colo de útero se estabeleceu. E esse mesmo cenário é visto, por exemplo, também na Austrália e outros países que estão vacinando de forma geral a sua população feminina e masculina. O câncer de colo de útero pode ser totalmente eliminado desde que a população seja adequadamente vacinada e coberta pela vacina", explica o médico.
Um dado muito importante de conscientização do mês do câncer de colo de útero é a questão da vacinação de toda a nossa população. "Com a vacinação, nós conseguimos erradicar o câncer de colo de útero e isso hoje é um dos programas mais importantes da Organização Mundial da Saúde na luta pela erradicação do câncer de colo de útero", diz Pupo.
Sinais da doença
O câncer de colo de útero quando se instala gera uma lesão no colo que é friável, ou seja, é uma lesão que facilmente se parte e sangra. Um dos sinais mais comuns em relação ao câncer de colo de útero é o sangramento durante a relação, onde o pênis bate ali na área que está com a lesão, com o câncer, e faz com que ele sangre.
"Outro sinal é o que nós chamamos de corrimento com aspecto de água de carne. Normalmente é um corrimento sanguinolento, meio aguado, e muitas vezes com odor fétido. Isso também deve fazer com que a paciente fique alerta e procure imediatamente apoio médico para a investigação. Esses são os dois sinais, mas quando eles aparecem, normalmente a doença já tem algum volume e já não é mais tão inicial. Então, mais importante do que sinais e sintomas é o acompanhamento anual e os exames de prevenção bem feitos e, mais do que tudo, a vacinação", recomenda.
Os sinais mais avançados da doença já envolvem dor pélvica associada ao sangramento e ao corrimento com aspecto de água de carne, inchaço das pernas em situações onde o câncer já avançou para fora do colo do útero. "Você pode ter situações graves já envolvendo o bexiga e o reto quando a doença se torna avançada. Ela vai crescendo no colo do útero e depois ela expande para as estruturas que estão ao redor do colo do útero, na frente a bexiga, atrás o reto, e nas laterais você tem os ureteres, que são os caninhos que ligam o rim à bexiga e que podem, quando o câncer cresce nessa direção, ele pode estenosar, ele pode abraçar esses caninhos e provocar a parada no fluxo da urina do rim para a bexiga, então já em situação bem avançada e bastante grave. Mais uma vez, prevenir é o melhor remédio", ressalta Pupo.
Como tratar?
O tratamento do câncer de colo de útero vai depender do tamanho da lesão e se ela está restrita ao colo ou se ela já extrapolou os limites do colo. O tratamento inicial é o tratamento cirúrgico com a remoção da área afetada com margens de segurança.
"Junto você vai tirar um pedacinho da parte superior da vagina, vai ter que tirar uma parte dos aparelhos de sustentação do útero. O que a gente chama de ligamentos, o parametro e útero sacro, que são as estruturas que seguram o útero no lugar. E se a doença já estiver um pouco maior, você então passa, em vez de operar, a usar a rádio e quimioterapia. Por quê? Porque os efeitos são semelhantes à cirurgia e menos mórbidos para paciente", explica o médico.
"E em situações mais avançadas, a rádio e a quimio, e eventualmente quimioterapia e imunoterapia, podem ser utilizados para o tratamento do câncer de colo de útero avançado. Quanto mais avançado o câncer, obviamente, mais complexo é o tratamento, mais mórbido e as probabilidades de sobrevida, obviamente, vão diminuindo. Então, de novo, como qualquer câncer, a identificação precoce e o tratamento de preferência das lesões precursoras do câncer são aquelas situações em que a paciente vai ter a melhor resposta ao tratamento e cura da doença", conclui Pupo.
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