Chama-se de Transtorno do Espectro Autista (TEA) a condição que afeta o neurodesenvolvimento de um indivíduo. Esse distúrbio caracteriza-se por um desenvolver atípico, manifestações comportamentais, problemas na comunicação e na interação social e padrões de comportamento repetitivos. Idealmente, o diagnóstico acontece quando a pessoa ainda é criança, mas, em alguns casos, há quem relate sua descoberta já na fase adulta. Com a empresária e esteticista Priscilla Araújo, foi exatamente assim: ela descobriu que era autista aos 41 anos e, ainda assim, conseguiu construir sua carreira e obter sucesso com os métodos criados por ela mesma.
“Aos sete anos, soube que tinha problemas cognitivos, mas o diagnóstico de autismo veio aos 41. Na verdade, sempre notei que eu fazia coisas diferentes, principalmente em relação ao comportamento. Desde muito nova, não conseguia entender o que a professora explicava, mas entendia em casa, quando sentava com a minha apostila. Lembro que, aos nove anos, eu passei a ser ‘CDF’ porque foi exatamente quando eu comecei a me sentar para estudar da maneira que eu conseguia entender. Também tenho hipersensibilidade a barulho. Se uma moto daquelas barulhentas passa na rua, eu sinto medo”, assume.
Ela conta que sentiu um forte efeito em relação à hipersensibilidade auditiva quando foi mãe, além de notar, em outras situações, alterações referentes à sua alimentação: “Quando meu filho chorava, me incomodava muito. Hoje, como estou mais madura, consigo sair do ambiente e ir para um lugar silencioso para me controlar, mas no começo era muito difícil. Também tenho uma seletividade alimentar bem grave. Eu não como legumes, verduras e nunca comi. Gosto só de ‘besteira’ e não tomo sopa porque é extremamente difícil para mim”, conta.
Enquanto tudo isso acontecia e ela sequer sabia o motivo, em paralelo, outros sinais surgiam. Alguns, ela começou a superar somente quando passou a investir em sua carreira como professora de estética. Vale ressaltar que, hoje, já são 32 anos de experiência.
“A comunicação social foi algo que eu só tive depois dos 36 anos, que foi quando comecei a dar aulas para as alunas do meu curso, que já são mais de 5 mil. Antes disso, eu não abria a boca e evitava ao máximo falar. Lembro que ia aos locais e ficava calada, meu marido até hoje fala que sou ‘antissocial’. Eu realmente não puxo assunto, mas sempre consegui entender o ponto de vista dos outros. Confesso que, na maioria das vezes, eu não concordo, mas sei que isso é porque eu tenho uma visão diferenciada, uma perspectiva diferente”, reflete.
Hoje, Priscilla é dona de duas empresas, está criando a terceira, criou o método de sucesso Ezbody e, através dele, melhora a saúde das pessoas, mas assume que não tem uma rotina por conta de sua condição:
“Não consigo seguir rotinas. Durante a minha vida, tive que me adaptar com algumas e, para mim, foi um sofrimento. Não gosto que ninguém fique me controlando e nem diga o que eu preciso fazer, mas quando você se casa, por exemplo, você passa a viver com outra pessoa completamente diferente, com outros hábitos e costumes. Foi preciso que eu aprendesse isso no dia a dia, assim como entender que tem coisas na minha profissão que eu não gosto de fazer. Descobrir que eu gosto de palestrar foi um verdadeiro alento porque consigo me entender um pouco mais e me dedicar ao que me faz bem, mas sei que nem sempre vou fazer só isso. Todos os dias, preciso entender e aprender a lidar com um turbilhão de coisas, seja na vida pessoal ou aqui mesmo, em meu consultório. Fácil não é, mas dou o meu melhor para alcançar meus objetivos”, completa.
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