O assédio moral e sexual é um dos grandes obstáculos para que a mulher consiga entrar e se manter no ambiente de trabalho, e isso pode ser comprovado por números atuais. Uma nova pesquisa ganhou destaque recentemente ao mostrar que nem no LinkedIn as mulheres estão passando "ilesas". A pesquisadora de diversidade, equidade e inclusão Cris Zanata, aponta o persistente sistema patriarcal como uma das principais causas desse problema e enfatiza que o anonimato, a impessoalidade e o machismo contribuem para uma realidade alarmante.
Um levantamento feito pelo site de fotos para passaporte Passport Photo Online questionou 1.049 usuárias do LinkedIn nos EUA e acabou descobrindo que 91% das mulheres já passaram por abordagens de assédio na plataforma. Elas disseram ter recebido abordagens de caráter romântico ou mensagens com caráter sexual pelo menos uma vez.
"Isso acontece por vários fatores, tais como anonimato por trás das telas, que faz as pessoas se sentirem mais à vontade para assediar outras sem enfrentar as consequências do mundo real, a impessoalidade, a facilidade de acesso à rede, o preconceito e o machismo, que ainda regem o sistema patriarcal", ressalta Cris Zanata, fundadora e CEO do InsAB (Instituto de Alterismo do Brasil).
Uma pesquisa conjunta entre o LinkedIn e a Think Eva em 2020 mostrou que as mulheres que sofrem assédio na plataforma no Brasil, frequentemente perdem a autoconfiança e experimentam um impacto negativo em sua performance profissional.
"Isso pode gerar nas mulheres a sensação de que elas seriam culpabilizadas pelo que aconteceu ou de que provocaram o episódio. Isso tanto no ambiente físico profissional, quanto na plataforma. Além disso, começam a não confiar mais na rede social e deixar de usá-la, pois têm medo de sofrerem novamente o assédio e não saber como reagir, gerando um forte impacto em sua saúde mental e emocional", explica Cris Zanata.
O estudo ainda mostra que, 1 em cada 6 mulheres vítimas de assédio sexual no ambiente de trabalho pede demissão e 35,55 afirmam viver sob constante medo. Estas mulheres que pedem demissão acabam se afastando do mercado de trabalho e dificultando o processo de contratação de mais mulheres. "O assédio pode desencorajá-las a ingressarem em determinadas organizações ou setores profissionais, especialmente se souberem que o ambiente é propenso a comportamentos prejudiciais. Isso pode resultar em uma menor representação das mulheres em cargos de liderança e áreas tradicionalmente dominadas por homens", diz Zanata exemplificando como o assédio gera uma cadeia de situações negativas para mulheres no ambiente de trabalho.
A onda de assédios gerou o movimento "Linkedin não é Tinder", que mostra como cada vez mais a discriminação de gênero está presente na plataforma profissional. Algumas mulheres podem se sentir compelidas a reduzir sua participação nas plataformas e isso, novamente, pode contribuir para uma reação em cadeia. Cris Zanata afirma que o assédio e a discriminação de gênero estão muitas vezes interligados e que isso resulta em danos para as mulheres na rede social.
"Isso também pode resultar em menos postagens, interações e contribuições, o que pode afetar sua visibilidade e influência na plataforma. Em casos mais graves de assédio, as mulheres podem ser forçadas a interromper completamente suas atividades nas plataformas. Isso pode prejudicar seu alcance, seus seguidores e sua capacidade de construir uma presença online significativa", complementa.
Cris acredita que para combater o assédio na plataforma se faz necessário a criação de um procedimento de denúncia fácil, com protocolo de acompanhamento do caso e resolução do problema. De acordo com ela, também é preciso desenvolver ações de conscientização sobre o tema para assediadores e vítimas, além de um monitoramento constante por parte da plataforma e a implantação de uma ouvidoria especializada.
Atualmente, o LinkedIn está tentando facilitar a identificação e denúncia de situações de assédio por meio do uso de inteligência artificial.
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