A falsa concepção do empoderamento feminino: desconstruindo a ótica patriarcal
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A falsa concepção do empoderamento feminino: desconstruindo a ótica patriarcal

Muitas vezes, as mulheres que procuram se empoderar acabam em uma espiral de atribuírem traços masculinos, na tentativa de se mostrarem mais fortes. Isso, no entanto, é um reflexo de uma construção patriarcal milenar da sociedade, que coloca para as mulheres que elas devem ter traços masculinos para serem mulheres fortes.  

Recentemente, Preta Gil contou sobre quando foi traída pelo marido e comentou que: “Por causa do meu empoderamento e da minha construção de sororidade com as mulheres, eu deixei duas coisas me escaparem: meu sexto sentido e minha intuição. E achei que não combinava com a mulher que sou sentir ciúmes, não é sobre ciúmes bobo e sim sobre evidências”.

Isso acontece porque o empoderamento feminino, hoje, é construído sobre o prisma de uma sociedade patriarcal, onde a mulher se masculiniza, e não estou falando de aparência, estou falando de postura de padrões. 

Infelizmente, temos uma falsa noção daquilo que é empoderamento, porque até o empoderamento feminino é construído a partir de uma ótica de poder masculino, ou seja, o conceito de empoderamento feminino é construído a partir de ideais da própria sociedade patriarcal.  

Entendemos o empoderamento feminino como: mulheres que passam imagens de fortaleza no sentido de não demonstrar sentimentos, mulheres que não sentem ciúmes, mulheres que não choram, que são fortes, que estão em reuniões e são firmes. É entendido pela sociedade, hoje, um conceito de que empoderamento é algo que vem do poder masculino, como se uma mulher empoderada por padrão tenha que se comportar como homem, pois as que agem dessa maneira estão em posição de poder. Isso tudo porque, claro, o poder é constituído na sociedade patriarcal como eminentemente masculino.

Conseguimos entender o que Preta Gil quer dizer quando pensamos em frases como “Ah, eu pego e não me envolvo” ou até mesmo “Faço isso, mas não vou chorar”. Esses pensamentos levam às mulheres uma falsa ideia de empoderamento, achando que seriam mais confiantes ao agir como homem, não demonstrando sentimentos, não levando em conta responsabilidades afetivas e minando qualquer forma de vulnerabilidade.

Ou seja, deixamos de demonstrar porque entendemos que isso é uma fraqueza. Deixamos de ouvir a nossa intuição, que mulher empoderada não pode levar em conta esse tipo de besteira, logo, a gente não se envolve nos relacionamentos sexuais como se isso nos tornasse pessoas mais fortes. 

E isso tudo vem muito da problemática de não conceber o feminino, de não ver que o poder pode ser eminentemente feminino. Precisamos ver o poder trazendo como principal valor a expressão na vulnerabilidade, já que esta mesma vulnerabilidade é capaz de gerar conexão. Ela é o verdadeiro instrumento capaz de empoderar as mulheres através da conexão e da consolidação de valores.

Atualmente, o que acontece é que a falsa ideia de empoderamento feminino não é nada mais do que reproduzir os homens, e reproduzir aquilo que os homens fazem, para estar no poder. Portanto, temos que remodelar essa maneira de ver o poder, precisamos trazer as nossas características, mostrar que nos importarmos, ouvir a nossa intuição, e fazer isso como o nosso mecanismo de poder. 

A sociedade patriarcal faz com que essas características que são independentemente femininas, sejam vistas como fraqueza e, a partir disso, perpetua essa ótica patriarcal pegando o que nós mulheres temos de melhor, como gerar conexão, demonstrar vulnerabilidade, e de demonstrar empatia, de falar sinceramente, argumentar, de ter responsabilidade afetiva e joga isso tudo para fora porque é entendido que ser igual o homem é uma forma de ter empoderamento feminino.

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