Começa nesta segunda-feira (27), a Viagem de Estudos de Alto Nível sobre Desenvolvimento de Política Feminista de Mobilidade, em Berlim, na Alemanha, evento que conta com a participação da arquiteta e urbanista Eveline Prado Trevisan, que, há três décadas, desenvolve projetos urbanísticos para a Prefeitura de Belo Horizonte.
Eveline coordena o programa de ciclomobilidade Pedala BH, desde 2012. Ela criou em parceria com ciclistas o grupo de trabalho GT Pedala BH, um grupo aberto, consultivo e sem líderes que reúne representantes da sociedade civil, organizações não governamentais e o poder público. Segundo, Eveline a mobilidade feminista, é olhar para os sistemas de mobilidade pela visão de gênero. Homens e mulheres se deslocam de forma diferente na cidade e isso se reflete nas políticas públlicas - e sobretudo na falta delas.
"Por exemplo, a iluminação das vias. O homem não se intimida em anda numa rua escura, isso não entra na pauta. Mas uma mulher sabe que não dá para andar de noite em rua escura. Muda a lógica do planejamento da cidade", explica.
"O deslocamento masculino também é mais linear, o homem vai de casa, para o trabalho, para o estudo. A mulher é multitarefas, leva o filho para a escola, ao médico, ela cuida da vida de todos aos redor, e isso impacta a forma de se deslocar, os horários que ela vai precisar de transporte público, e o planjejamento é excludente", diz a especialista.
"Meu trabalho nunca teve um recorte exclusivo de gênero, estou aprendendo, também reproduzia comportamentos machistas", admite Eveline. Ao lidar com a exclusão das bicicletas, fazendo com que sejam mais vistas e respeitadas, percebeu outras exclusões.
"Vários eventos que fui, tinham mesas sobre gênero, isso não é ensinado, a gente acha que é normal. Eu trabalho em um ambiente muito masculino e moro em um país muito machista, então entender que posso representar uma perspectiva feminista é algo que eu nem tinha percebido, apesar de ser bastante firme em relação a este tema como profissional. Trabalho para que tenhamos uma cidade mais inclusiva e acolhedora, principalmente para os mais vulneráveis. O feminismo permeia todo o meu trabalho de forma transversal, e com certeza ressalto a importância disso no dia a dia do um trabalho."
Ao receber a programação do encontro em que estará em Berlim, Eveline disse terá a companhia de mulheres incríveis. "Nada é mais positivo do que essa troca, essa escuta atenta, mesmo vindo de cidades tão diferentes, as questões são muito parecidas. E vamos ver onde já avançou, o que consideramos uma boa prática e trazer para a nossa realidade", conclui.