O que parece impossível pode acontecer, por inúmeros motivos, inclusive querer o seu bem. Saiba como lidar com esta situação
Segundo Renata Rode, autora do livro Separado, e daí? (Editora Parêntese), geralmente as famílias ficam a favor das suas próprias filhas quando realmente há o rompimento, mas pode haver uma certa tendência pelo genro quando imaginam que não é definitivo.
A sociedade ainda é machista quando falamos de separação e para isso há dois motivos: ninguém casa para separar e as pessoas tendem a achar que nunca vão se divorciar porque a própria decisão de reiniciar uma vida é muito difícil. Toda transformação gera medo, na pessoa e, claro, envolve todos os familiares, que sempre acreditam que ainda há o que conversar e torcem por um retorno do casal, detalha.
Foi o que aconteceu com a decoradora Adriana*, 37 anos. Eu estava casada há seis anos quando resolvi comunicar o divórcio para os meus pais, que imediatamente se mostraram contrários e perguntaram até se eu estava envolvida com outro homem!, lembra. O bom relacionamento dos sogros com o marido da filha, a decisão por parte da mulher em se separar e também os mitos pré-estabelecidos em relação ao casal e a vida conjugal deles pode contribuir para o intrometimento, como explica Margarete Volpi Arantes, psicoterapeuta familiar e de casais.
A situação onde a mulher opta pelo término gera insegurança, pois a opinião dos pais ainda está moldada pelo sentimento de que o casamento é um lugar seguro e para sempre, explica.
Adriana resolveu a questão expondo de maneira clara e sincera os motivos da sua decisão, que incluía traição por parte do ex-marido, algo que eles jamais imaginaram. Meus pais entenderam que não foi de uma hora para outra e que o desgaste da vida a dois às vezes não é visível por todo mundo. Foi preciso muita conversa e nem sei de onde tirei forças pra tanto diálogo, pois já estava fragilizada com o fim do meu casamento e ainda tinha essa barra para segurar. Mas, ao mesmo tempo, me deu um certo alívio, pois enquanto falava o que vinha acontecendo com a gente, também entendia um pouco mais a minha própria história, conta.
A medida foi aprovada pela psicoterapeuta, que cita a desconstrução da imagem idealizada do casal pela família o item necessário para que, além de eliminar os torcedores e partidários, todo mundo compreenda e elabore o processo, para depois reconstruir novas possibilidades de manter vínculos com ambos os membros do casal separado, arremata.
E os seus filhos?
No caso da chef de cozinha Marília*, 42 anos, quem tomou partido do ex-marido foi o filho de 12 anos. Nunca me senti tão machucada e horrorizada. Ele me culpava pelo fim do casamento, mas nem sabia os reais motivos pelo qual me separei, afinal eu e meu ex-marido procuramos nunca brigar na frente dele ou expor nossas queixas.
Para a psicoterapeuta Margarete, o esclarecimento dos fatos, falar a verdade e mostrar segurança na decisão contribuem muito para a compreensão dos filhos. Mas não se trata de transformar as pessoas em mocinhos ou bandidos. Em muitos casos os filhos são usados como uma arma para atingir a outra parte. Esse modo de ação não deve existir, para que os filhos entendam a diferença dos pontos de vista e dos motivos individuais dos seus pais. O diálogo franco e aberto sempre será benéfico, aconselha.
Isso vale para todas as relações familiares, afinal, segundo a especialista, a separação é considerada uma das mais dolorosas experiências pela qual um ser humano pode passar, e o direito de receber conselhos, pedir ajuda (ou negá-la) é inteiramente seu.
* Os nomes foram trocados a pedido das entrevistadas.
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